terça-feira, 18 de abril de 2017

Dentro e fora do país, aumenta a saturação em relação a Putin


Protestos contra a corrupção em 99 cidades da Rússia
foram animados pelos jovens

Luis Dufaur, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, 17 de Abril de 2017

Manifestações contra a corrupção predominante no Kremlin reuniram em Março muitos milhares de pessoas em quase cem cidades da Rússia. A aglomeração e a multiplicidade de locais deixaram espantados os opositores e situacionistas.

O Kremlin que sabia do mal-estar espalhado na Rússia, entretanto, não conseguia esconder o espanto diante da dimensão do protesto. Surpreso também ficou Alexei Navalny o dissidente que convocou as marchas.

Alexei Navalny e cerca de 700 seguidores foram presos pelo aparato repressivo enquanto os manifestantes foram atacados com gás pimenta e cassetetes segundo a organização OVD-Info.

Para a polícia «só» 500 foram encarcerados. O recurso à brutalidade com os opositores não é novidade na Rússia nem para uns nem para outros.

Navalny tinha publicado um relatório acusando o primeiro-ministro Dmitri Medvedev de liderar um império imobiliário em benefício dos chamados oligarcas que rodeiam o presidente Vladimir Putin.

O vídeo sobre o inquérito e a corrupção das elites foi visualizado por 11 milhões de vezes no YouTube antes das marchas populares, noticiou «Le Fígaro» de Paris.

As manifestações populares foram proibidas pela polícia em 72 das 99 cidades previstas. Mas os populares saíram em massa até em cidades da província onde não se podia suspeitar de tanto descontentamento como Irkutsk, Tomsk, Krasnoiarsk, ou Novossibirsk na Sibéria, acrescentaram «Le Figaro» e o «The Wall Street Journal».

Violência repressiva prendeu centenas de manifestantes 

Em Moscovo os manifestantes encheram a rua Tverskaïa, uma das principais avenidas da capital.

«O País está farto da corrupção», disse Natalia Demidova, 50 anos. «Eles roubam e mentem, mas as pessoas são pacientes. Esta manifestação é o primeiro impulso para as pessoas reagirem» comentou Nikolai Moissei, operário de 26 anos.

Em São Petersburgo, segunda cidade da Rússia, 4 000 pessoas reuniram-se apesar da proibição e as ameaças da polícia presente com excessivo número.

«Estamos fatigados pelas mentiras, é preciso fazer qualquer coisa», explicou Serguei Timofeiev, de 23 anos.

O líder oposicionista Navalny foi preso com violência, mas achou isso «compreensível»: «os ladrões defendem-se desta maneira. Mas não podem prender todos os que são contra a corrupção porque são milhões», reportou o jornal parisiense.

As televisões do Estado cumpriram um perfeito silêncio sobre os acontecimentos.

O «The Wall Street Journal» informou que as multidões cantavam «Rússia sem Putin» inclusive diante do Ministério da Polícia.

A rádio «Eco de Moscou» falava em multidões muito maiores dos milhares reconhecidos pela polícia.

O mal-estar na Rússia está em aberta contradição com os inquéritos oficiais que atribuem a Putin mirabolantes índices de popularidade.

O departamento de Estado em Washington contentou-se com uma severa condenação da violação dos direitos humanos, mas, como é habitual em relação aos governos de esquerda não foi além do exercício verbal.

«Bandido deveria estar na cadeia», repetia com a multidão Anna Tursina em Moscovo. «Não gosto da Rússia que nós temos e da corja que está no poder. Não há dinheiro para a educação, a ciência, as crianças, mães e anciões», acrescentou.

O «New York Times» comparou os protestos na Rússia com as manifestações havidas no Brasil pelo impeachment de Dilma Rousseff e ao apoio à Operação Lava Jato.

«Os jovens deixam apatia e assustam o Kremlin» foi um dos cabeçalhos do jornal nova-iorquino, citado pela «Folha de S. Paulo».

Os macromedia oficiais, na Rússia e no Ocidente, tentaram abafar os factos

Um dos factos mais surpreendentes até para os líderes dos protestos foi a juventude dos presentes: um grande número era composto de adolescentes ou jovens na faixa dos 20, observou «The New York Times».

Para o jornalista Artyom Troitsky que acompanhou muitos anos a cultura jovem russa, o engajamento da juventude nos protestos foi «excepcionalmente importante». Saíram da apatia e isso é sinal de que «algo está mudando definitivamente».

O jornal pró-socialista «El País» de Madrid, constatou o fenómeno com amargura no editorial «Cansados de Putin». Para ele os acontecimentos marcam a recusa do autoritarismo vivido pela Rússia sob Vladimir Putin.

Astuciosamente, o jornal de esquerda recomendou ao presidente russo não ignorar o descontentamento de incontáveis russos e não se limitar a acusações e medidas repressivas contra o dissidente Navalny.

Estas poderiam-lhe resultar contraproducentes em virtude das contundentes provas apresentadas por Navalny sobre o império imobiliário de Medvedev, financiado por oligarcas e outros interesses obscuros.

«El País» observou a «constante ingerência russa nos processos democráticos actuais e na política dos países da Europa», e até na campanha eleitoral dos EUA. E observou com preocupado interesse o facto de que «Putin vincula-se a forças reaccionárias, como as representadas por Marine Le Pen em França e Viktor Orbán na Hungria».

O jornal socialista recomendou-lhe «regenerar um sistema que se distancia cada vez mais dos usos democráticos, em vez de tentar influir noutros».

E aconselhou a Putin não se enganar com o silêncio a que foi reduzida a sociedade russa. Porque, «dentro e fora do país, aumenta a saturação em relação a Putin», concluiu.





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