quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Há 50 anos, tanques soviéticos esmagavam Praga. Mas a cobra marxista quer voltar hoje ao Brasil!.


1968: manifestantes enfrentam tanques soviéticos em Praga.

Luis Dufaur, IPCO, 24 de Agosto de 2018

Há 50 anos, na noite de 20 para 21 de Agosto de 1968, a capital da Checoslováquia acordou com um estrépito inusual até para aqueles agitados dias.

O sinistro barulho era produzido por 2 300 tanques de 29 divisões blindadas do Exército Vermelho que violaram a fronteira oriental do país.

Na invasão denominada «Operação Danúbio» participavam outras unidades da aliança militar comunista Pacto de Varsóvia, hoje substituída sorrateiramente por novos pactos concebidos por Vladimir Putin.

Soldados poloneses, húngaros, búlgaros e alemães do Leste totalizavam 200 mil combatentes instruídos para esmagar mais uma revolta popular na Europa Oriental socialista ocupada pela URSS, segundo longa reportagem do «Clarim».

Doze anos antes, um heróico levantamento anticomunista e patriótico na Hungria fora afogado em sangue e fogo. Mas a revolta de checos e eslovacos foi diferente.

As manifestações estudantis, sabotagens e greves começaram meses antes deixando o balanço final de mais de uma centena de mortos e de 300 mil exiliados imediatos.

A chamada «Primavera de Praga» ecoava o Maio de 68 francês e as revoltas pacifistas nos EUA enquanto o exército americano passava apertado pela enlouquecida ofensiva da guerrilha comunista dos vietcongues.

https://www.youtube.com/watch?v=qKYno3hfFUs

Repressão soviética da «Primavera de Praga», 1968

A nível popular, a revolta de Praga foi a sublevação de um povo que se queria libertar do opressor marxista.

Mas, o nobre povo era guiado por líderes suspeitos. Cultivavam a semente de uma planta peçonhenta: a de um comunismo «autogestionário», verdadeira meta da utopia marxista até então nunca concretizada.

Essa meta acabou inscrita na Constituição da URSS de 1977 e foi apresentada ao mundo décadas depois como fruto sedutor da perestroika de Mikhail Gorbachev.

‘’Lê-se no preâmbulo da Constituição russa de 1977 que

«o objectivo supremo do Estado soviético é edificar a sociedade comunista sem classes, na qual se desenvolverá a autogestão social comunista»

(Constitución — Ley Fundamental — de Ia Unión de Repúblicas Socialistas Soviéticas, de 7 de Outubro de 1977, Editorial Progresso, Moscou, 1980, p. 5).

Quando o líder supremo russo anunciou o fim da URSS em 26.12.1989, pensava na extinção do Mamute escleroso das «Repúblicas Socialistas» e na implantação do «comunismo novo» que no Ocidente havia sido anunciado pelo presidente socialista francês François Mitterrand.

A manobra autogestionária não deu certo nem na Rússia nem na República Checa, como tampouco na França, na Polónia e onde tentou implantar-se.

Mas na Checoslováquia, a utopia fervia em círculos intelectuais. Desde 1953, Antonin Novotny, «laranja» do comunismo soviético, tiranizava o país. Os soviéticos fizeram dele o fiel ditador, o presidente do Estado desde 1957.

Novotny acabou abandonando o poder em inícios de 68. Alexander Dubcek assumiu a secretaria-geral do Partido Comunista e o seu nome ficou associado à insurreição.A «Primavera de Praga» propôs pela enésima vez a enganação de um «socialismo de rosto humano».

A «Primavera de Praga» propôs pela enésima vez a enganação de um «socialismo de rosto humano».

Essa falácia voltaria a ser repetida na América Latina, e no Brasil. Notadamente no Chile com o presidente comunista Salvador Allende derrubado por golpe popular-militar em 1973.

No Brasil foi o cerne do «Lula paz e amor»: um socialismo «cristão» no gosto da CNBB que não começou fuzilando burgueses como a Rússia de Lenine.

Milhares de pessoas saíram às ruas contra a invasão soviética
Mas que acabaria a jogar o Brasil na violência, o caos e a miséria anárquica da Venezuela de Maduro, onde Chávez tentou estabelecer as bases do «socialismo autogestionário».

Na Rússia, a mentira do «socialismo com rosto humano», autogestionário e profundamente igualitário foi a grande cartada de Mikhail Gorbachev.

A fórmula gorbacheviana recolheu as propostas dos ideólogos checos do comunismo novo: «terceira via», reformas económicas pelo igualitarismo total nas fábricas, liberdade religiosa para a Igreja Nova que tinha surgido do Concílio Vaticano II, fim da censura à imprensa que no Ocidente se tinha voltado para a esquerda, entre outras coisas.

No interior do PC checo e, principalmente do PC russo, essas reformas não foram vistas com bons olhos.

Os ortodoxos «leninistas» percebiam que o povo simples não entendia nada dessas construções ideológicas. Simplesmente queria livrar-se do comunismo como um cachorro chacoalha a água do banho.

Se para essa libertação era necessária uma fase obscura dita «autogestionária», o povo a suportaria e no fim acabaria por jogar-la fora com o sabão do banho.

Ajuda a compreender o caso aquilo que se deu na Polónia. O badalado sindicato Solidariedade liderado por Lech Walesa mobilizou as massas contra a ditadura comunista prometendo a «autogestão». Moscovo deixava-o jogar até ao ponto de Walesa se beneficiar sem represálias das bênçãos públicas do Vaticano.

O sindicato Solidariedade liderou a derrocada do comunismo soviético que oprimia a Polónia. Lech Walesa ficou presidente e tentou o seu projecto «autogestionário», ou «comunismo de rosto humano».

O povo polonês acabou dando-lhe um pontapé e hoje Walesa e os seus sonhadores estão a chorar as mágoas amparados pelas esquerdas ocidentais. A Polónia é católica e quer os princípios cristãos tradicionais da religião, da família e da propriedade.

Tanques soviéticos esmagam «Primavera de Praga»
Em 68, os intelectuais da «Primavera de Praga» redigiram o manifesto «Duas Mil Palavras» (Dva Tisíce Slov), questionando o rol hegemónico do Partido Comunista, exigindo a reabilitação dos prisioneiros políticos, pedindo uma TV aberta e liberal para fazer a sua revolução da imoralidade como hoje fazem as TVs como a Globo no Brasil.

Mas os leninistas do Kremlin comandados por Breznev foram perspicazes: isso daria num «acto contra-revolucionário». E ordenaram a invasão sangrenta.

Dubcek foi obrigado a trabalhar como jardineiro. O atleta campeão Emil Zatopek ficou gari (varredor de ruas). Cineastas e escritores do novo comunismo foram melhor tratados e deixados partir para o exílio.

O banho de sangue de Budapeste sinceramente anticomunista e patriótico de 1956, não se repetiu bem no movimento popular checoslovaco de 1968.

Mas a «Primavera de Praga» levantou uma bandeira entre os súbditos obedientes de Moscou.

Muitos intelectuais e simpatizantes comunistas afastaram-se das mofadas fórmulas filosóficas de Karl Marx e dos facinorosos conselhos tácticos de Vladimir Lénin.

Os maiores Partidos Comunistas do Ocidente, notadamente os mais poderosos de Franca e da Itália, anunciaram novas vias, como o «eurocomunismo».

Só a Cuba de Castro – a «ilha do diálogo» segundo o Papa Francisco – se manteve fiel ao crime de Estado, cópia da URSS.

Nada sobrou do «novo comunismo autogestionário» da «Primavera de Praga»? Na vida dos partidos e dos movimentos temporais parece que algo ficou, mas mirrado e sem força de projecção para o futuro.

Gorbachev não conseguiu o que queria. O seu sucessor Yeltsin governou num período anódino «aquecendo a poltrona» para aquele que viria: Vladimir Putin. Este voltou-se para o modelo de José Stalin, seu modelo e ídolo.

Fazenda Buriti invadida e incendiada por índios teleguiados
pela nova missiologia de luta de classes, em Sidrolândia, MS
Os tanques enferrujaram, a rebeldia neo-marxista morreu. Hoje os jovens checos procuram valores conservadores.

Mas a utopia não morreu, ficou acalentada em clubes filosóficos, sacristias, bispados e panelas teológicas. Hoje hoje renasce até em documentos pontifícios como a encíclica do Papa Francisco «Laudato Si».

Sim, renasce. E mais radical do que nunca. E é devorado por um frenesi de igualitarismo para além do sonhado por Marx.

A dita utopia seria melhor interpretada na fórmula máxima da «autogestão»: a vida pansíquica da tribo na mata alimentada por meio de cultos xamânicos de forças escuras que emanariam das profundezas da terra. Chame-se de Gaia, de Pachamama ou ainda de outra forma.

O que os ideólogos europeus da «autogestão» não se atreveram a dizer, está a começar a ser debatido publicamente em função do próximo Sínodo da Igreja Pan-amazónica convocado pelo Papa Francisco. Cfr.: O materialismo da Igreja ecológica amazónica deixa Kal Marx atrás.





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