sexta-feira, 29 de julho de 2016


Uma lei que não pode ser melhorada


Pedro Vaz Patto

No momento em que escrevo, o Parlamento acaba de aprovar uma nova versão do projecto que legaliza a maternidade de substituição. Para os proponentes, trata-se da resposta ao apelo do Presidente da República no sentido de «melhorar» a primeira versão dessa lei, suprindo algumas lacunas já anteriormente apontadas em dois pareceres do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (C.N.E.C.V.). Impõe-se afirmar, com vigor e clareza, que uma qualquer lei que legalize a maternidade de substituição não pode ser «melhorada», porque esta é uma prática intrinsecamente contrária à dignidade humana (e, assim, contrária ao disposto no artigo 67.º, n. 2, e), da Constituição portuguesa) e nenhum enquadramento jurídico poderá obviar a isso. Os problemas que pode suscitar nunca serão resolvidos de forma satisfatória e só a sua proibição em qualquer caso os afasta. Essa proibição vigora em muitos países e também é preconizada na recente Resolução do Parlamento Europeu 2015/2229 (N), de 17 de Dezembro de 2015, aprovada por larga maioria (e referida na mensagem do Presidente da República). O vigor e clareza dessa afirmação não provém apenas da área doutrinal em que me situo. Provém também de movimentos feministas de vários países (que confluem na plataforma internacional Stopsurrogacynow), os quais vêm denunciando essa prática como de exploração das mulheres mais vulneráveis, chegando a compará-la à escravatura. Essa legalização é apresentada com a marca de uma política «progressista», quando, noutros países, muitas são as vozes tidas por «progressistas» e «de esquerda» que a rejeitam («um retrocesso social» e «o novo domínio da alienação» – de acordo com um manifesto da Fundação Terra Nova, próxima do Partido Socialista francês).

É verdade que a lei aprovada veda a exploração comercial da prática, onde residiriam os maiores riscos de exploração das mulheres pobres. O legislador não pode, porém, ignorar a realidade sociológica e o risco de tal proibição ser torneada através de pagamentos ocultos ou em espécie. Só situações de grande carência económica levam mulheres a sujeitar-se a tão traumatizante experiência (não é por acaso que a prática se vem difundindo na Índia ou na Tailândia). De acordo com o manifesto feminista italiano Se non ora quando-Libere, «a ‘maternidade de substituição’ nunca é um acto de liberdade ou de amor, é sempre um acto de desespero». Neste contexto, a gratuidade do contrato pode representar uma forma de exploração ainda mais acentuada.

Mesmo que assim não seja em situações excepcionais (e nenhuma lei se destina a situações excepcionais, mas às que são regra), deve sublinhar-se, de qualquer modo, que a instrumentalização da pessoa (da criança e da mãe gestante), reduzida a objecto de um contrato e de um desejo de outrem, não deixa de verificar-se pelo facto de esse contrato ser gratuito. Também pode ser instrumentalizada a pessoa altruísta e desinteressada. O aproveitamento dessa generosidade para uma prática desumana será de igual modo censurável.

O recurso a amigas ou familiares (a maternidade de substituição de proximidade) pode originar ainda mais problemas, com a coexistência de duas figuras maternas «em concorrência». Quando há laços de parentesco, suscitam-se gravíssimas consequências que já foram designadas como «curto-circuito geracional»: a criança com uma mãe gestante que é, simultaneamente, também sua avó, ou também sua tia.

Também não colhe invocar o consentimento livre e consciente da mulher gestante. Porque em situações de grave carência e desespero, tal consentimento nunca será autêntico. E porque a dignidade humana tem uma dimensão objectiva e indisponível que impede a justificação das ofensas a essa dignidade pelo consentimento da vítima.

Por tudo isto, nem a referida Resolução do Parlamento Europeu, nem a referida plataforma feminista internacional, distinguem entre uma maternidade de substituição maligna e comercial e uma maternidade de substituição supostamente benigna e altruísta.

Com a legalização da maternidade de substituição, quer o filho, quer a mãe, são, pois, reduzidos a objecto de um contrato (seja ele oneroso ou não).

A mãe gestante não pode deixar de viver a gravidez como sua. O útero é inseparável do corpo e da pessoa, não é um alojamento temporário, ou um instrumento técnico. A mulher não é uma máquina incubadora. A gravidez não é uma actividade como qualquer outra; transforma a vida da mulher fisica, psicologica e moralmente. Envolve toda a pessoa da mulher, pessoa que não tem um corpo, é um corpo. A instrumentalização do corpo traduz-se na instrumentalização da pessoa.

Na maternidade de substituição, o abandono da criança é, não um evento inevitável que deva ser remediado através da adopção, mas uma consequência deliberadamente programada, institucionalizada pela lei, a qual veda a obrigação mais espontânea e natural que existe: a de assumir a vida que se gerou. Impor contratualmente uma obrigação de abandono do filho que se gerou é, como afirma a filósofa feminista francesa Sylviane Agacinsky (promotora da plataforma Collectif pour le respect de la personne), «violentar sentimentos humanos profundos e legítimos» e «ferir emoções humanas elementares».

Para limitar essa tão desumana imposição, há quem proponha (e há legislações que a consagram) a possibilidade de arrependimento da mulher gestante durante todo o período da gravidez, ou até algumas horas após o nascimento. Desse modo, pode dizer-se que serão frustradas as expectativas do casal beneficiário. A lei que acaba de ser aprovada não aponta nesse sentido. Faz prevalecer, pelo contrário, os interesses do casal beneficiário, o seu suposto direito ao filho «encomendado» e a rigidez fria da vinculação contratual (pacta sunt servanda), sobre o sofrimento da mãe gestante, votado à indiferença.

Compreende-se, assim, como a contratualização da gestação se traduz na instrumentalização da pessoa. Essa lógica de instrumentalização da pessoa acarreta, com frequência, a imposição de regras de conduta durante a gravidez nos domínios mais pessoais e íntimos. Sobre esta questão, pronuncia-se também Silvanne Agacisnky (in Le corps em miettes; Flamarion, 2013, pgs. 92 e 93):

«Pedir a uma mulher para estar grávida em substituição de outra significa concretamente que ela deve viver nove meses, vinte e quatro horas sobre vinte e quatro, abstraindo-se da sua própria existência corporal e moral. Deve transformar o seu corpo em instrumento biológico do desejo de outrem, em suma, deve viver ao serviço de outrem, retirando à sua existência qualquer significado para ela própria

Pretendendo colmatar uma das lacunas apontadas pelo C.N.E.C.V. e pelo Presidente da República, a lei agora aprovada proíbe a imposição desse tipo de regras. Mas tal proibição pode não ser suficiente para evitar a sua imposição na prática, pois só elas são coerentes com a motivação que preside ao contrato: a contratualização da gestação, sendo que esta envolve toda a pessoa e toda a vida da mulher.

O filho é tratado como objecto do contrato. Essa circunstância, por si só, ofende a sua dignidade. Não pode dizer-se que objecto do contrato é, antes, apenas uma prestação por parte da mulher gestante. O que pretendem, e o que move, os requerentes ou beneficiários não é apenas a gestação, mas a entrega da criança fruto dessa gestação.

Todos os contratos de maternidade de substituição envolvem um grave dano para a criança, que sofre o trauma do abandono, a quebra abrupta da intensa relação física, psíquica e afectiva (sobre que cada vez há mais informação científica) tecida com a mãe durante todo o período da gestação. A criança fica privada do saudável reconhecimento do corpo onde habitou na primeira etapa da sua existência. Nesta medida, a maternidade de substituição representa sempre a sobreposição do desejo dos requerentes ao bem da criança.

Mas a lógica da instrumentalização (ou «coisificação») do filho pode ir mais longe.

Outra das lacunas que a lei agora aprovada pretende colmatar diz respeito às situações em que vem a verificar-se malformação ou doenças do feto. São conhecidos casos de recusa, pelos requerentes, da criança recém-nascida portadora de deficiência, ou de exigência de prática de aborto do feto portador de deficiência. Não se trata de hipóteses académicas, mas de situações já ocorridas em vários países. A lei aprovada estipula apenas que o contrato deve contemplar a regulação desta eventual ocorrência, não excluindo, pois, que as partes possam acordar no sentido da obrigação da prática do aborto, sob pena de declinação de qualquer responsabilidade do casal beneficiário para com a criança nascida. Eis-nos perante a expressão máxima (em toda a sua crueza e crueldade) da lógica da «coisificação» do filho «encomendado» e da «cultura do descartável»: o «produto» rejeitado por «defeito de fabrico», pela falta da «qualidade» pretendida e contratada. O filho que não vale por si, mas porque (e na medida em que) corresponde a um desejo bem determinado. E eis-nos também perante a expressão máxima de insensibilidade perante o drama da mulher gestante, a quem se impõe a violação da mais espontânea e natural das obrigações (cuidar da vida que traz dentro de si), não apenas através do abandono do seu filho, mas (mais grave ainda) através da supressão da vida deste (o aborto já não como opção, mas como obrigação).

Em suma, uma qualquer lei que legalize a maternidade de substituição nunca pode ser «melhorada», porque, como afirmou a Associação dos Juristas Católicos em recente comunicado, «não é possível remediar o que não tem remédio», e «a proibição da maternidade de substituição é um imperativo da protecção da dignidade humana».





quinta-feira, 28 de julho de 2016


(Des)Culpa Ateia


Maria João Marques, Observador, 27 de Julho de 2016

Sem surpresa, o atentado de Rouen causou uma reacção pavloviana da nossa esquerda jacobina. Até o primeiro-ministro entendeu não reagir mesmo depois de o ISIS reivindicar a bela acção durante uma missa.

Que semana atroz. A degolação de um padre católico ontem em França introduziu na Europa aquilo que tem sido uma característica do extremismo islâmicos nos últimos tempos: perseguir os cristãos. Um dos primeiros raptos do ISIS, ainda grupelho desconhecido, foi de um padre jesuíta. Ora, sem surpresa, ontem o atentado de Rouen causou uma reacção pavloviana da nossa esquerda jacobina.

Ou falta de reacção, em alguns casos, e igualmente sintomática. Por exemplo o primeiro-ministro, que não reagiu mesmo depois de o ISIS reivindicar a bela acção durante uma missa. Um ataque directo à religião maioritária dos seus governados não lhe mereceu comentário oficial. Nem no twitter, onde se embaraça com frequência a propósito de demasiados assuntos: durante a noite do atentado de Nice perorou em francês; disse a correr umas banalidades sobre amor inspiradas em Corín Tellado depois do atentado de Orlando; e – a mais estonteante – escreveu do atentado de Munique que o terror veio «do nada».

(Se faz favor ninguém informe António Costa do avião que explodiu por cima de Lockerbie. Ou que a 11 de Setembro de 2001 morreram quase três mil pessoas nas Torres Gémeas. Porque, por um lado, Costa tem todo o ar de ser pessoa para apreciar viver feliz na ignorância. E, por outro, está muito calor, e a notícia assim de chofre do terror islâmico não surgir do nada em 2016, pelo contrário, já matou muitos milhares de pessoas, ainda lhe provocava uma indisposição. O que, em calhando, o poderia levar a tornar-se ainda mais emocionalmente carente do que o habitual, e o senhor já nos envergonha o suficiente em estado normal a pedir «palavras de carinho», em vez de sanções, à instituição hiper-burocrática que é a União Europeia, habituada a que os políticos discutam impostos, fundos e indicadores económicos em vez dos seus devaneios emocionais.)

Já Fernanda Câncio, que funciona como uma espécie de definidora de tendências da esquerda socialista (por quem é absolutamente reverenciada, talvez pela sua destemida defesa das mais absurdas e ruinosas políticas socráticas), reagiu. Dizendo no twitter que uma notícia, dando conta do reconhecimento de que os atacantes de Rouen eram tropa do ISIS, era «fazer a propaganda do Daesh». Como se trata de uma jornalista – pelo que se pode presumir que vê como um bem as populações estarem informadas do que de relevante se passa no país e no mundo – que, tanto quanto sei, não sugeriu a sonegação de informações sobre os atentados de Orlando, Nice, Paris ou Bruxelas, ficamos desconfiados que o desconforto repentino com as notícias da brutalidade do ISIS se deve à qualidade de religioso católico do degolado e não à seita de assassinos islâmicos.

De facto, em certos meios um padre brutalmente assassinado por islâmicos é algo que mais vale ficar nas gavetas da polícia, não vamos incomodar as pessoas com estes assuntos tão sem importância. Ainda se fosse ao contrário, imaginem lá bem a comoção que seria por toda a comunicação social, os êxtases que teria a facção jacobina de esquerda, se um católico ultra-conservador assassinasse um clérigo muçulmano numa mesquita europeia. Isso sim, mereceria ser noticiado até à exaustão. Agora apresentar os católicos como vítimas? Era o que faltava. O jornalismo (jacobino) não foi feito para isso.

Na semana passada teci umas considerações sobre os europeus que se tornam cúmplices dos islâmicos violentos ao tão obcecadamente denunciarem quem enumera os perigos para a Europa da imigração muçulmana, ao mesmo tempo que encontram as justificações mais alucinadas para os actos dos terroristas islâmicos e pregam. Esta semana houve acrescentos. Agora, pelos vistos, a culpa dos atentados é das notícias sobre os atentados. Pessoas (por acaso islâmicas) perfeitamente normais, integradas, amigas do seu amigo e amantes de fotografias de gatinhos ouvem na TV que um maluco muçulmano disparou sobre este e aquele. Vai daí, são tomadas – assim com Ben Gazzara num dos meus filmes preferidos, Anatomia de um Crime, de Otto Preminger – por um «impulso irresistível» e quando dão por elas mataram meia dúzia a eito. É uma explicação perfeitamente plausível para o terrorismo islâmico.

Peguemos no degolador de Rouen. Estava referenciado como extremista islâmico perigoso e em prisão domiciliária com pulseira eletrónica. Já tinha tentado juntar-se ao ISIS na Síria. Donde: é evidente que assassinou um senhor de 86 anos por causa das notícias que leu no tablet.

A morte do padre católico também nos lembra que para a esquerda jacobina não interessa se existem tribunais da sharia na grande Londres, dispensando justiça (muita tosse) à margem da lei britânica. O que lhes dá ataques de nervos é, por exemplo, usarem dinheiro dos contribuintes para pagarem um bom projecto educativo que uma ordem religiosa disponibiliza a uma população de miúdos carenciados. Se os islâmicos ajudarem a escaqueirar o que sobra da cultura judaico-cristã (ou greco-cristã, como alguns preferem) – que é a nossa e que não por acaso permitiu a emergência da sociedade mais livre e tolerante de todos os tempos – em boa verdade então são companheiros de armas da esquerda jacobina. Que, de resto, adora abusar da alegada necessidade de não ofender o islão (no seu pedestal) para atacar, até, as celebrações católicas de Páscoa e Natal.

Duas coisas são certas. Uma: para responder ao terrorismo não podemos confiar nos líderes políticos que escancararam as portas aos refugiados (Merkel), ou que diziam que os terroristas viajavam de avião (Guterres). (O bombista do festival de Ansbach foi um migrante que supostamente fugia da guerra). Duas: a falta de garra na oposição às barbaridades islâmicas várias na Europa – por exemplo as burqas, símbolo da mulher-que-vale-menos-que-gado – é filha do desprezo jacobino pela cultura europeia, que inclui a herança cristã.






O cardeal Burke adverte

que o Islão quer governar o mundo



Ante el aumento de ataques islamistas en suelo occidental, el cardenal Raymond Burke, patrono de la Soberana Orden de Malta, ha advertido que el Islam «quiere gobernar el mundo» y ha hecho un llamamiento a las naciones occidentales a reafirmar su origen cristiano para frenar su avance.

(La Gaceta) En declaraciones a Religion New Service, previas al atentado de ayer en Francia, el cardenal Burke ha criticado a quienes, con el buen propósito de ser tolerantes, tienden a pensar que el Islam es una religión como la fe católica o la fe judía, sin comprender que el Islam es «fundamentalmente una forma de gobierno».

«El Islam es una religión que, según su propia interpretación, también debe convertirse en el Estado», explica Burke en su libro Esperanza para el mundo. La diferencia entre Islam y cristianismo radica en que la primera tiene una clara ambición de gobernar, según este cardenal.

«Cuando se convierten en una mayoría en cualquier país, entonces tienen la obligación religiosa de gobernar ese país», ha sostenido este cardenal, al tiempo que ha defendido que si lo que quieren los ciudadanos occidentales es ser gobernados por musulmanes, sólo deben continuar actuando como lo han hecho hasta el momento.

Burke también ha señalado el grave problema que afrontan países como Bélgica o Francia, donde «hay pequeños estados musulmanes» que constituyen zonas prohibidas para las autoridades gubernamentales. Ha advertido, además, que quienes no estén de acuerdo con ser sometidos por un gobierno islámico, tienen razones para tener miedo ante esta perspectiva.

Asimismo, este cardenal ha hecho referencia a enfrentamientos históricos como la batalla de Lepanto y la batalla de Viena, en los que las naciones cristianas lograron derrotar a las fuerzas musulmanas. «Estos hechos históricos se relacionan directamente con la situación de hoy en día. No hay duda de que el Islam quiere gobernar el mundo», ha reflexionado Burke.

Como respuesta ante esta situación, Burke propone a las naciones occidentales reafirmar su origen y fundamentos cristianos, sin que suponga una limitación de la libertad religiosa. «Tenemos que decir que no, que nuestro país no debe convertirse en un estado musulmán», ha defendido el purpurado.





segunda-feira, 25 de julho de 2016


Cantão suíço de Ticino

Burqa proibida e sujeita a pesada multa



O parlamento do Cantão de Ticino, na Suíça, aprovou uma lei que pune as mulheres que usem burqa ou niqab com multas que variam entre os 92 e os nove mil euros.

A decisão foi tomada depois de um referendo ter provado que a proibição de cobrir a cara em espaços públicos é defendida por dois em cada três eleitores.

A lei, que entra em vigor nas próximas semanas, aplica-se também a turistas, pelo que a informação vai ser difundida em estações rodoviárias e ferroviárias e em aeroportos.

Desta forma – inspirada na lei francesa – pretende-se promover a integração social naquela região da Suíça, onde 2% dos 350 mil emigrantes é muçulmano.






Quem irá escrever o futuro de França?


Daniel Pipes, Washington Times, 7 de Junho de 2016

Dois romances franceses de grande repercussão, diferentes quanto ao tom e ao timing, retratam duas influentes visões de França no futuro. Não se trata apenas de boa leitura (ambos já foram traduzidos para o inglês), juntos estimulam o pensamento sobre a crise da imigração no país e as mudanças culturais.

Jean Raspail (1925-) imagina a invasão racial vinda pelo mar, por meio de jangadas e botes partindo do subcontinente indiano navegando vagarosamente, inexoravelmente rumo ao Sul de França. No Le Camp des Saints (O Campo dos Santos, 1973), primordialmente documenta a impotente reacção francesa, tomada pelo pânico, à medida que a horda (palavra usada 34 vezes) «continua engrossando ainda mais as suas fileiras».

É uma perfeita fantasia anti-utópica sobre a raça branca e a vida europeia que corresponde aos receios articulados por ninguém menos que Charles de Gaulle, o principal político de França pós-guerra, que dava cordial acolhimento a cidadãos franceses não brancos, «desde que permanecessem uma pequena minoria. Senão, a França deixará de ser a França. Afinal de contas, somos todos, acima de tudo, um povo europeu de raça branca».

Camp também antecipa a noção da «Grande Substituição» (Le Grand Remplacement) conceptualizada pelo intelectual francês Renaud Camus, que antecipa a rápida substituição «do histórico povo do nosso país por povos de origem imigratória que são em grande medida não europeus». É o mesmo receio, a grosso modo – dos imigrantes passarem o povo francês autóctone para segundo plano e apoderarem-se do país – que inspira o partido Frente Nacional, que já atinge índices de 30% dos votos nas pesquisas de opinião e continua crescendo.

Michel Houellebecq (1956-) conta a história, não de um país (França), mas de um indivíduo (François) em estado de Soumission (Submissão, 2015). François é um professor já cansado, decadente, do movimento decadente da literatura francesa. Não tem família, amigos nem ambição; embora tenha somente quarenta e poucos anos, a sua vontade de viver deteriorou-se e chegou ao tédio a ponto de se alimentar de pratos prontos e uma sucessão de troca de parceiros sexuais.

Quando um político muçulmano, ostensivamente moderado, inesperadamente se tornar presidente de França em 2022, uma série de mudanças radicais na vida francesa tomarão forma rapidamente. Numa guinada, o que começa de forma sinistra (um corpo num posto de gasolina) mais do que depressa se torna em algo bom (deliciosa comida do Médio Oriente). Atraído por uma boa e recompensadora oferta de trabalho com a vantagem de poder conhecer e casar com várias estudantes, todas cobertas com véus, François imediatamente abandona os seus antigos costumes e converte-se ao Islão, que lhe promete recompensas de uma vida sumptuosa, exótica e patriarcal.

Se por um lado o romance de 1973 nunca menciona a palavra Islão ou muçulmano, em contrapartida o romance de 2015 adapta-se às duas – começando pelo título: Islão que em árabe significa «submissão». Da mesma forma, o primeiro livro tem como foco a raça enquanto o segundo praticamente não toma conhecimento dela (a prostituta favorita de François é do Norte de África). A tomada do poder da primeira obra termina de forma diabólica, a outra de forma agradável. O primeiro livro é um tratado político apocalíptico disfarçado de entretenimento, o segundo apresenta uma visão literária e sardónica no tocante à perda de força de vontade sem também expressar qualquer ânimo em relação ao Islão ou aos muçulmanos. O primeiro documenta uma agressão o segundo um consolo.

Os romances capturam duas importantes e praticamente contraditórias correntes do pós-guerra: a atracção exercida pela Europa livre e rica nos povos remotos e empobrecidos, principalmente muçulmanos; e a atracção de um Islão vigoroso em vez de uma Europa pós-cristã enfraquecida. Em ambos os casos, a Europa – apenas 7% do território mundial, contudo a região dominante por cinco séculos, de 1450 a 1950 – está prestes a perder os seus costumes, cultura e convenções sociais, tornando-se uma mera extensão ou até dependente do Norte de África.

Os romances sugerem que a alarmante preocupação expressada há décadas (multidões de pessoas furiosas e violentas de pele escura) tornam-se um lugar comum e até benignas (as universidades do Médio Oriente pagam salários mais altos). Sugerem que o clima de pânico já passou, sendo substituído por uma época de graciosa capitulação.

Camp causou furor na Direita quando do lançamento do livro, os dois livros, no entanto, abordam temores muito mais disseminados nos dias de hoje; a republicação de Camp em 2011 saltou para o topo da lista de best sellers em França e Submissão  simultaneamente tornou-se o best seller n.º 1 quatro anos depois em França, Itália e Alemanha.

Um hiato de quarenta anos separa os dois livros; se saltarmos mais 42 anos, que tipo de história poderá contar um romance futurista publicado em 2057? Intelectuais como Oriana Fallaci, Bat Ye'or e Mark Steyn assumiriam a vitória do Islão e a caça aos poucos remanescentes franceses da fé cristã. A minha previsão, no entanto, é praticamente contrária a essa: um relato que assume o fracasso da grande substituição de Camus, imaginando a violenta repressão aos muçulmanos (nas palavras de Claire Berlinski) «libertando os franceses da ofuscação da História europeia» acompanhada pela reafirmação nativista francesa.

Original em inglês: Who Will Write France's Future?

Tradução: Joseph Skilnik






quarta-feira, 13 de julho de 2016


Carácter português supera

a fragilidade francesa



Portugal e os Portugueses vistos por um estrangeiro, por ocasião da vitória
de Portugal sobre a França na final do Euro 2016.

(Original em inglês)


. . . . .

(Tradução automática)

Carácter português supera
a fragilidade francesa

Uma equipe tinha a vontade de vencer.
O outro teve apenas je ne sais quoi.

Tunku Varadarajan

CET 7/11/16, 01:04

Actualizada 7/11/16, 14:01 CET

O simplista e superficial será tentado a descartar as finais do Euro 2016 como um final monótono a um torneio monótona e pobre. Eles vão estar faltando uma enorme ponto sobre finais de campeonatos - e cerca de futebol em si.

Portugal derrotou a França por 1-0, e a modéstia do placar obscurece uma infinidade de coisas: drama, fortaleza, pungência, perversidade, resistência e determinação. O que não obscurecer o fato de que esta foi a maior conquista de Portugal como nação desde o dia em que foi admitido na Comunidade Económica Europeia em 1986.

Com todos os pré-match falar deste jogo sendo uma colisão de frente entre as estrelas as duas equipes "- Antoine Griezmann e Cristiano Ronaldo - que era fácil esquecer que o futebol é um jogo de equipa. Um lembrete de que a verdade veio cruelmente aos 25 minutos, quando Ronaldo estava maca para fora do campo.Portugal, você teria pensado, era agora uma equipa órfão. O que seria dos homens deixados no campo, sem o seu jogador da estrela, sua cintilante talismã?

Ronaldo tinha sido ferido no 8º minuto depois de um robusto, mas não extravagante, resolver por Dimitri Payet. Seu joelho dobraram e ele caiu no relvado, provocando uma luta grotesca de vaias dos torcedores franceses. Ele saiu a coxear do campo para o tratamento, então mancou de volta novamente, apenas para diminuir para o relvado mais uma vez. Os fãs franceses repetiu sua erupção de vaias - cacophonic e implacável, uma forma hedionda para tratar um homem ferido; mas o cavalheirismo não é a força de multidões franceses, que poderia aprender uma coisa ou duas a partir de alguns dos fãs que estiveram em seu meio de mais nações desportivas.

Era um paradoxo, mas Portugal cresceu em força com a saída de Ronaldo; e a França, que parecia invencível até aquele momento, parecia ter o ar sugado para fora dela. Era como se a partida de seu maior inimigo tinha deixado sem pistas sobre quem o adversário era agora.

Portugal malha-se em cota de malha; e como o francês disparou suas flechas, eles não conseguiram furar a defesa Português. O heróico Rui Patrício, na baliza, era como um personagem de Os Lusíadas.


O futebol era raramente muito, exceto quando Éder marcou magicamente no minuto 110; e não foi sempre edificante. Em momentos como este, especialmente nos finais de grandes torneios, é melhor não pensar do jogo puramente como o futebol. Pense nisso, em vez disso, como um drama humano mais amplo, um teste de caráter, e de todas as habilidades e artes de sobrevivência e de penetração.

Então eu não acho que de Pepe - Doughty, vilão, desconexo, Pepe histriônica - apenas como um jogador de futebol empacotamento backline de Portugal. Eu o vi como um soldado, um sobrevivente, um repulsor de hordas que avançavam. Eu não acho que de Nani - insatisfatórios, muitas vezes decepcionante Nani - como a frente mais provável para marcar um golo para Portugal; Eu pensava nele como o batedor que forayed profundamente em território inimigo em busca de fendas e caminhos.

O francês entrou em campo, deve-se dizer, com um certo suporte, intitulada, e sentia-se, a meio do jogo, que eles estavam indo para uma punição. Eles desperdiçaram oportunidades em abundância, e Didier Deschamps vai lamentar sua má gestão de Paul Pogba e sua desconfiança de Anthony Martial. Ele também vai lamentar, eu suspeito, a ausência de Karim Benzema, excluído do elenco por razões morais blousy. França perdeu a agitação da Big Benz; França perdeu a sua vanguarda.

O Português, por sua vez, jogou fiel ao tipo nacional e histórico. Deles é uma terra que sempre usou seus escassos recursos com sabedoria, astuciosamente, esticando-os ao máximo grau. Como poderia um pedaço de terra no extremo ocidental da Europa continental construir para si um império de tal magnitude. Há uma dourness de determinação, uma fortaleza defensiva, uma obstinação incansável ao Português que lhes serviu bem no império e os serviu no campo de futebol na noite de domingo.

Este, lembre-se, foi a última potência européia para produzir a independência às suas colónias africanas. Houve uma obstinação para a sua longevidade colonial, assim como houve uma obstinação de seu futebol na noite passada. A bela francesa, com suas habilidades e emoções e seus pavão-jogadores, não poderia quebrar o espírito do Português. A equipe francesa não tem a determinação para uma sucata prolongado. Seu desejo de "ganhar muito" era muito sufocante.

A final será lembrado mais longo em Portugal, onde ele será lembrado por uma eternidade. O resto de nós faria bem para admirar os vencedores para a sua vontade de vencer. Afinal, isso é o que cada equipe veio fazer no Euro 2016.

Será que gosto de cada equipa a jogar futebol a forma como esta equipa Português faz? Certamente não. Mas não gostaríamos cada equipe querer ganhar tão mal como Ronaldo e seu bando de homens fizeram? Eu acho que o que fazemos.Certamente que fazemos.

Reportagem adicional de Satya Varadarajan.

Tunku Varadarajan, contribuindo editor da  POLITICO , está escrevendo a coluna Linesman na Euro 2016.





sexta-feira, 1 de julho de 2016


O Brexit e o ocaso do Ocidente.


Roberto de Mattei

O referendo inglês de 23 de Junho (Brexit) chancela o colapso definitivo de um mito: o sonho de uma «Europa sem fronteiras», construída sobre a ruína dos Estados nacionais.

O projecto europeísta, lançado com o Tratado de Maastricht de 1992, continha as sementes da sua autodissolução. Era inteiramente ilusório pretender realizar uma união económica e monetária antes de uma união política. Ou, pior ainda, imaginar servir-se da integração monetária para impor a unificação política. Porém, tanto e ainda mais ilusório era o projecto de chegar a uma unidade política extirpando as raízes espirituais que unem os homens em torno de um destino comum.

Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, aprovada pelo Conselho Europeu em Nice, em Dezembro de 2000, não só elimina todas as referências às raízes religiosas da Europa como constitui uma negação visceral da ordem natural cristã. O seu artigo 21.º, introduzindo a proibição de discriminação relativa à «orientação sexual», contém, em germe, a legalização do pseudo-casamento sexual e a criminalização da «homofobia».

O projecto de «Constituição», elaborado entre 2002 e 2003 pela Convenção sobre o futuro da Europa, foi rejeitado por dois referendos populares, um na França, em 29 de Maio de 2005, e o outro nos Países Baixos, três dias depois. Mas os eurocratas não desistiram. Após dois anos de «reflexão», em 13 de Dezembro de 2007, foi aprovado pelos Chefes de Estado e de Governo da União Europeia o Tratado de Lisboa, que deveria ser ratificado exclusivamente por via parlamentar. A Irlanda, o único país obrigado a expressar-se por meio de referendo, rejeitou o Tratado em 13 de Junho de 2008. Mas como era necessária a unanimidade dos Estados signatários, foi imposto aos irlandeses um novo referendo, que graças à fortíssima pressão económica e mediática, deu finalmente resultado positivo.

Na sua curta vida, a União Europeia, incapaz de definir uma política externa e de segurança comum, transformou-se numa tribuna ideológica, produzindo resoluções e directrizes para compelir os governos nacionais a livrarem-se dos valores familiares e tradicionais. Dentro da UE, a Grã-Bretanha, em vez de pisar no freio para retardar o plano franco-alemão de um «superestado europeu», pisou pelo contrário no acelerador, a fim de difundir em escala europeia as suas «conquistas civis», do aborto à eutanásia, das adopções homossexuais às manipulações genéticas. Essa deriva moral foi acompanhada na Inglaterra por uma embriaguez multicultural, culminando com a eleição, em Maio de 2016, do primeiro prefeito muçulmano de Londres, Sadiq Khan.

Mas já em 2009, o então prefeito conservador, Boris Johnson, convidou todos os londrinos a participar, pelo menos por um dia, do jejum do Ramadão e entrar numa mesquita ao pôr-do-sol. Mais recentemente, o primeiro-ministro David Cameron, polemizando com o candidato à presidência americana Donald Trump, definiu-se como «orgulhoso por representar um dos países multirraciais, multirreligiosos e multiétnicos mais bem-sucedidos do mundo» («HuffPost Politics», 15 de Maio, 2016).

Brexit representa certamente um sobressalto de ufania de um povo com uma longa história e uma antiga tradição. Mas a identidade e a liberdade de um povo fundam-se no respeito à lei divina e natural, e nenhum gesto político pode restaurar a liberdade de um país que a perde por causa da sua decadência moral.

O «não» à União Europeia foi um protesto contra a arrogância de uma oligarquia que pretende decidir, sem o povo e contra o povo, quais são os interesses do povo. Mas os poderes fortes que impõem as regras burocráticas de Bruxelas são os mesmos que desfazem as regras morais do Ocidente. Quem aceita a ditadura LGBT, perde o direito de reivindicar o próprio Independence Day, porquanto já renunciou à sua identidade. Quem renuncia a defender as fronteiras morais de uma nação, perde o direito de defender as suas fronteiras, porque já aceitou o conceito «líquido» da sociedade global. Sob este aspecto, o itinerário de autodissolução da Grã-Bretanha segue uma dinâmica que o Brexit não pode parar, e da qual pode vir de facto a constituir mais uma etapa.

A Escócia já ameaça com um novo referendo para deixar o Reino Unido, seguida da Irlanda do Norte. Além disso, quando a rainha, que tem 90 anos, deixar o trono, não é de se excluir que alguns países da Commonwealth declarem a independência. Alguém disse que a rainha Elizabeth foi coroada imperatriz do British Empire e talvez morra à frente de uma Little England. Mas este itinerário de desunião política tem como resultado final a republicanização da Inglaterra.

O ano de 2017 marca o terceiro centenário da fundação da Grande Loja de Londres, a mãe da Maçonaria moderna. Mas a Maçonaria, que nos séculos XVIII e XIX se serviu da Inglaterra protestante e deísta para difundir no mundo o seu programa revolucionário, parece hoje determinada a afundar a monarquia britânica, na qual vê um dos últimos símbolos ainda sobreviventes da ordem medieval.

Após o Brexit, cenários de desintegração podem também abrir-se no resto da Europa. Na Grécia, pela explosão da crise económica e social; na França, onde as periferias urbanas estão ameaçadas por uma guerra civil jihadista; na Itália, pelas consequências de uma irrefreável invasão migratória; na Europa Oriental, onde Putin está pronto para aproveitar a fraqueza das instituições europeias para assumir o controle do território oriental da Ucrânia e exercer a sua pressão militar sobre os Estados Bálticos.

O general britânico Alexander Richard Shirreff, ex-vice-comandante da OTAN de 2011 a 2014, previu, na forma de romance (2017 War with Russia. An Urgent Warning From Senior Military Command – «Guerra em 2017 com a Rússia. Um aviso urgente do Alto Comando Militar» –  Coronet, Londres 2016), a explosão de uma guerra nuclear entre a Rússia e o Ocidente, em Maio de 2017, uma data que para os católicos lembra algo. Como podemos esquecer-nos, no primeiro centenário de Fátima, das palavras de Nossa Senhora, segundo as quais muitas nações serão aniquiladas e a Rússia será o instrumento do qual Deus se servirá para punir a humanidade impenitente?

Diante dessas perspectivas, os próprios partidos conservadores europeus estão divididos. Se Marine Le Pen na França, Geert Wilders na Holanda e Matteo Salvini na Itália, exigem a saída dos seus países da União Europeia e confiam em Putin, bem diversas são as posições do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e do líder polonês Jaroslaw Kaczynski, que vêem na UE e na NATO uma barreira contra o expansionismo russo.

Em 1917 foi publicado Der Untergang des Abendlandes («O declínio do Ocidente»), de Oswald Spengler (1880-1936). Cem anos mais tarde, a profecia do escritor alemão parece começar a cumprir-se. ««Ocidente», mais do que um espaço geográfico, é o nome de uma civilização. Esta civilização é a Civilização Cristã, herdeira da cultura clássica greco-romana que a partir da Europa se difundiu para as Américas e para as ramificações longínquas da Ásia e África. Teve o seu baptismo na noite do sonho de São Paulo, quando Deus deu ao Apóstolo a ordem de virar as costas para a Ásia a fim de «ir para a Macedónia» anunciar a Boa Nova (Actos 16, 6-10). Roma foi o local do martírio de São Pedro e São Paulo e o centro da civilização que nascia.

Spengler, convencido do inexorável declínio do Ocidente, lembra uma frase de Séneca: Ducunt volentem fata, nolentem trahunt («O destino guia os que lhe obedecem e arrasta consigo os que se lhe opõem»). Mas à visão relativista e determinista de Spengler nós opomos aquela de Santo Agostinho que, enquanto os bárbaros sitiavam Hippona, anunciava a vitória da Cidade de Deus na história, sempre guiada pela Divina Providência. O homem é artífice do seu próprio destino e, com a ajuda de Deus, o ocaso de uma civilização pode transformar-se na aurora de uma ressurreição. As nações são mortais, mas Deus não morre, e a Igreja não tem ocaso.