domingo, 29 de janeiro de 2017


O MAU

Shutdown político


Alberto Gonçalves

Inspirado pelo novo partido liberal, «uma startup política», cito, situada «à direita de Costa e à esquerda de Passos», decidi enfim fundar o meu próprio movimento. De início, ponderei enfiá-lo no espaço ideológico localizado entre os pensadores vulgarmente associados à «direita» – Marques Mendes, o causídico Júdice, a dona Ferreira Leite e um rapaz que treina guarda-redes no Tondela – e a esquerda em peso. Mas não coube. Durante o congresso inaugural, que decorrerá a bordo de um Smart (há lugares vagos), tentarei amassá-lo até caber.





sexta-feira, 27 de janeiro de 2017


Lançamento de livro








O VILÃO

Descrispação (sic)


Alberto Gonçalves

Os aliados do PS recusam aliar-se ao PS na curiosa questão da TSU; o PSD, adversário do PS, também recusa. Primeira conclusão? A culpa é do PSD, que não ajuda o PS que, mediante uma maioria «estável», lhe usurpou as eleições e o Governo. Segunda conclusão? Os aliados do PS que discordam do PS na questão da TSU estiveram bem ao atacar natural e subtilmente o PSD por concordar com eles. Terceira conclusão? O PSD carece de um líder que saiba valorizar os interesses do PS, perdão, do País. Epílogo? Passos Coelho está arrumado.





quinta-feira, 26 de janeiro de 2017


A «revolução de género» da National Geographic:

Péssimo argumento e ideologia preconceituosa


Aceitar as reivindicações da ideologia transgénero requer fechar os olhos
à nossa consciência e escarnecer da «lei escrita no coração»
que os nossos corpos testemunham.

Andrew Walker & Denny Burk, Midiasemmascara,12 de Janeiro de 2017

A edição de Janeiro de 2017 da National Geographic dedica-se a explorar o que chama de «Revolução de Género» – um movimento pós-Revolução Sexual que procura desconstruir entendimentos tradicionais sobre o corpo humano, o dimorfismo sexual masculino-feminino e o género. Num artigo intitulado «Rethinking Gender», Robin Marantz Henig cita as normas de género em evolução como uma justificativa para a Revolução de Género. Mas o argumento de Henig não é apenas inaceitável, é baseado também numa proposta radical sobre a natureza humana que está em desacordo com a lei natural e a antropologia bíblica.
O objectivo deste ensaio não é abordar todas as facetas do género que Henig explora. Em vez disso, o nosso objectivo é resolver alguns dos erros mais flagrantes no artigo. Muitas das críticas abaixo aplicam-se não apenas ao artigo de Henig, mas também aos problemas filosóficos mais amplos inerentes ao movimento transgénero.

Identidade de Género, Confusão de Categorias
e Inconsistência Moral

Primeiro (e mais problemático): Henig não oferece nenhum argumento substantivo para explicar porque a auto-percepção interna da sua «identidade de género» deve determinar o seu sexo ou ter autoridade maior do que o seu sexo biológico. O ensaio oferece testemunhos de pessoas que dizem que a sua identidade de género está em desacordo com o seu sexo biológico. Mas o testemunho não é suficiente. A afirmação de uma reivindicação não demonstra a autenticidade dessa reivindicação. Os leitores não recebem nenhuma explicação de porque devemos considerar as reivindicações de uma identidade de género como realidade, em vez de ser apenas um sentimento subjectivo ou auto-percepção.

Na verdade, este é o cerne da questão que assola o movimento transgénero. Baseia-se não na evidência, mas na ideologia do individualismo expressivo – a ideia de que a identidade é autodeterminada, que se deve viver essa identidade e que todos devem respeitar e afirmar esta identidade, não importa o que ela seja. O individualismo expressivo não requer nenhum argumento moral ou justificação empírica para as suas reivindicações, não importa quão absurdas ou controvertidas possam ser. O transgenerismo não é uma descoberta científica, mas um compromisso ideológico prévio sobre a flexibilidade do género.

Em segundo lugar, Henig comete uma falácia ao ligar as condições intersexuais ao transgénero. Estas são categorias muito diferentes. «Intersexo» é um termo que descreve uma série de condições que afectam o desenvolvimento do sistema reprodutor humano. Estes «distúrbios do desenvolvimento sexual» resultam em anatomia reprodutiva atípica. Algumas pessoas intersexuais nascem com «genitália ambígua», que tornam a determinação do sexo ao nascer muito difícil.

É precisamente neste ponto que a intersexualidade é muito diferente do transgenerismo. Aqueles que se identificam como transgéneros não estão a lidar com ambiguidade sobre o seu sexo biológico.Transgenerismo refere-se à variedade de formas que algumas pessoas sentem que a sua identidade de género está fora da sincronia com o seu sexo biológico. Assim, identidades transgénero são construídas sobre a suposição de que o sexo biológico é conhecido e claro, o que não é o caso da intersexualidade.

Intersexualidade e transgenerismo são maçãs e laranjas, mas não saberia isso lendo o artigo de Henig. Aqueles que estão a forçar a revolução de género têm um interesse em confundir as categorias. Acreditam que pode ser demonstrado que o sexo biológico é um espectro, em vez de um binário, então podem minar o essencialismo de género. Mas as condições intersexuais não refutam o binário sexual. São desvios da norma binária, não o estabelecimento de uma nova norma. Assim, a experiência fisiológica da intersexualidade está numa categoria diferente das construções psicológicas da disforia de género e do transgenerismo. Henig relaciona essas categorias de forma problemática, de modo a colocar a identidade de género e a anomalia médica numa única categoria.

Nessa mesma linha, Henig cita um estudo que relaciona a não-conformidade de género com o autismo. Qualquer conclusão que este estudo pretenda estabelecer, não valida uma suposta identidade transgénero. No máximo, poderia estabelecer uma correlação entre não-conformidades de género e autismo, mas não uma causalidade, nem uma corroboração da ideologia transgénero. Novamente, aceitar que a identidade de género de alguém está em desacordo com o seu sexo biológico não é nada mais do que ideologia sem qualquer verificação ou dados empíricos para apoiar tal afirmação. É metafisicamente impossível verificar a afirmação de que a identidade de género declarada confirma uma compreensão mais precisa do género do que o sexo biológico.

A última página do artigo de Henig comemora a mutilação de crianças menores com uma foto de uma menina de 17 anos sem camisa, que sofreu recentemente uma mastectomia dupla para «transição» para se tornar um menino. Porque os ideólogos transgéneros consideram prejudicial a tentativa de mudar a mente dessa criança, mas consideram que ela está progredindo ao exibir o seu peito nu e mutilado para uma história de capa? Os ideólogos transgéneros como Henig nunca abordam esta contradição ética no coração do seu paradigma. Porque é aceitável alterar cirurgicamente um corpo para torná-lo de acordo com a sua ideia do próprio self, mas intolerância tentar mudar o seu sentido de self para se adequar ao seu corpo? Se é errado tentar mudar a identidade de género (porque é fixa e não se pode mexer porque é danoso), porque seria moralmente aceitável alterar algo tão fixo como a anatomia do aparelho reprodutor de uma criança? Aqui a inconsistência moral do argumento é flagrante.

Ciência fraca e alegações contraditórias

Terceiro, o artigo refere-se obliquamente à «Teoria Cerebral do Sexo» para apoiar a conclusão mais ampla de que as identidades de género expansivas são imutáveis, objectivas e uma expressão autêntica do verdadeiro sexo de uma pessoa. Henig reconhece, com razão, as deficiências da Teoria Cerebral do Sexo, mas, no final, não oferece qualquer sugestão sobre a legitimidade das reivindicações transgénero à luz da inconclusividade dos estudos científicos sobre esta questão.

É por isso que o seu argumento é, em última análise, pouco convincente e problemático: não há consenso científico sobre o que causa o transgenerismo. As teorias cerebrais do sexo são hipóteses, mas Henig escreve como se a revolução que nós estamos a encontrar agora seja boa e mereça ser considerada inquestionável. Se Henig admitisse a falta de certeza em torno do transgenerismo, poria em dúvida a certeza sobre a qual o artigo (e toda a questão) se baseia. Henig não aborda os seus próprios pressupostos, mas admite que as categorias descritas no artigo se baseiam em teorias, não em factos.

Em quarto lugar, além do artigo de Henig, a cobertura da National Geographic é atormentada por reivindicações contraditórias e incoerentes. «A identidade de género e a orientação sexual não podem ser alteradas, mas a forma como as pessoas identificam a sua identidade de género e orientação sexual pode mudar ao longo do tempo, na medida em que descobrem mais sobre si próprios». A primeira metade desta frase afirma a imutabilidade da identidade de género, mas a segunda metade afirma que a autoconsciência das pessoas sobre essas coisas pode mudar ao longo do tempo.

Não há uma contradição aqui quando definimos os nossos termos? A identidade de género não é uma categoria objectiva, mas sim subjectiva. É como se percebe o seu próprio senso de masculinidade ou feminilidade (Yarhouse, pp. 16-17). Se essa percepção é fixa e imutável (como afirma a primeira metade da frase), então é incoerente dizer que a autopercepção possa mudar ao longo do tempo (como afirma a segunda metade da frase). A autopercepção pode mudar ou não mudar. Não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. Esta é uma contradição desconcertante contida dentro de uma única frase, mas parece que o autor não percebe.

Além disso, a afirmação de que as identidades transgénero são igualmente fixas e imutáveis como a orientação sexual, simplesmente não é apoiada por qualquer tipo de consenso científico. De acordo com um importante relatório publicado por Lawrence Mayer e Paul McHugh em The New Atlantis, «Há também pouca evidência de que as questões de identidade de género têm uma alta taxa de persistência em crianças». De facto, cerca de 80% das crianças que vivenciam sentimentos transgéneros conseguem resolver as suas dificuldades sem qualquer intervenção, após a puberdade. Dizer que as identidades transgénero são fixas e imutáveis é simplesmente impreciso.

O que a Justiça Realmente Exige?

Em quinto lugar, toda a questão enquadra a «Revolução do Género» como a próxima fronteira da justiça social. Isso parece extraordinariamente míope dado o ritmo acelerado em que a revolução de género veio para a América. Mas vamos reformular os elementos da discussão que são omitidos do artigo de Henig e da questão geral:

– Porque é que a sociedade deve aceitar uma teoria do género que tem tão pouca adjudicação histórica?

– Porque não se faz perguntas sobre se certos meios são a causa de tais experiências recém-descobertas na história humana?

– Porque não se explora os elementos politizados do transgenerismo que são apoiados por um movimento agressivo LGBT?

– Porque se omite a história da contestação por trás deste movimento – que a compreensão da confusão de género como uma patologia a ser aliviada, ao invés de uma norma a ser abraçada, comum até o passado recente, agora é estigmatizada, se não até apagada da história?

– Porque é a pressa para aceitar a alegação de que alguém é um membro do sexo oposto ao biológico ou não possui nenhum género?

– Porque é que a justiça exige a aceitação de uma medicina que mutila partes funcionantes do corpo em nome da identidade de género?

Henig não reconhece quaisquer vozes dissidentes que questionam a validade das identidades transgénero. O seu artigo – e a revista como um todo – dá por certa a ideia de que a compaixão e a justiça são mediadas apenas através da aceitação das controvertidas teorias nele contidas. Nós rejeitamos isso.

Finalmente, o artigo não aborda as conclusões que se seguem das suas premissas.

Numa legenda, lemos:

Henry foi designado homem no nascimento, mas considera-se «criativo de género». Expressa-se através do seu senso de moda de vestir singular. Os seus pais inscreveram-o no Bay Area Rainbow Day Camp, onde pode encontrar o vocabulário para explicar os seus sentimentos. Aos seis anos de idade, já está muito seguro de quem é.

O título deste artigo é de um radicalismo desenfreado. Nenhum garoto de seis anos tem a certeza do que ele é. A afirmação radical não-julgadora não é uma abordagem saudável para os pais ou uma estratégia de governo viável para a sociedade. Os pais realmente devem suspender toda a forma de julgamento e curvar-se aos caprichos  passageiros dos seus filhos? Esta sujeição estenderia-se a todos os assuntos?

Num ponto, Henig descreve um indivíduo que está a procurar por uma identidade na qual «se sinta bem». Isto é assustadoramente subjectivo e sujeito a auto-reinterpretações sem fim. O que «parece certo» para uma pessoa não indica o caminho para o que é certo. É também um exemplo de porque a revolução de género consiste em «cisternas quebradas que não podem conter água» (Jeremias 2:13). Como ilustra um vídeo muito difundido, tomar a linguagem de «identidade» e «identificar» ao lado de «género» leva a afirmações frívolas e ridículas que na nossa consciência sabemos serem falsas. E, na verdade, isso é o que é mais problemático sobre este artigo: aceitar as alegações contidas nele exige um fechar os olhos para a nossa consciência. Requer fazer zombar da «lei escrita no coração» que os nossos corpos dão testemunho no nosso projecto de design natural. Como este artigo demonstra, não há limites para a revolução sexual e de género, apenas o rastro da carnificina humana que resulta da supressão da verdade.

Henig faz uma admissão surpreendente perto do final de seu ensaio: «A Biologia tem o hábito de se declarar no final». Sobre isso, Henig está certo. A humanidade não pode escapar dos limites inscritos na biologia. É impossível transgredir fronteiras biológicas carimbadas na natureza humana sem as categorias básicas da existência humana se desmantelarem. Se a história de National Geographic diz alguma coisa, ela fala de uma sociedade indo por um caminho de experimentação voluntária que levará à miséria e à negação do telo humano. Na verdade, esse movimento nascido de academias efémeras e mitologias esquerdistas não é mais do que uma barbárie revestida de verdade.


Denny Burk é professor de Estudos Bíblicos na Boyce College e no The Southern Baptist Theological Seminary. Também é presidente do Conselho para a masculinidade bíblica e feminilidade.

Andrew T. Walker é o director de Estudos Políticos da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa e estudante de doutorado em Ética Cristã na The Southern Baptist Theological Seminary.

Nota do tradutor, Heitor De Paola:

Embora não seja usual por não corresponderem a palavras dicionarizadas em Português, preferi usar revolução/ideologia transgénero para substituir transgender revolution/ideology. Em alguns casos ficou melhor transgeneralidade ou transgeneralismo.





quarta-feira, 25 de janeiro de 2017


A reabilitação do sr. Trump


Alberto Gonçalves, Sábado, 24 de Janeiro de 2017

E pronto: vem aí o sr. Trump, fanfarrão de poucos modos, poucas letras, muito dinheiro e demasiadas frases no Twitter. Assustador? Depende. A democracia na América é tão robusta que, ainda o homem não ocupou o cargo, já vai arranjando maneira de o tornar digerível e, não tarda, desejável. Através dos famosos «checks and balances», controlos e equilíbrios, pesos e contrapesos, o «sistema» organicamente desatou a sugerir que embora o sr. Trump não seja grande coisa, a verdade é que podia ser coisa bastante pior. Por comparação às convicções e aos métodos de alguns dos seus opositores, o sr. Trump é um mal pequenino. E, em política, um mal pequenino é quase um achado.

Comecemos pelo longo inventário de «artistas» que recusaram cantar na gala inaugural. É grave que nomes como Elton John, Céline Dion, os Kiss e Ricky Martin não emprestem as vozes à legitimação do novo Presidente? Grave seria que emprestassem. Sempre que o autor de Candle In The Wind fecha a boca, a humanidade ganha, e o sr. Trump, responsável pelo abençoado silêncio, ganha a dobrar.

E há, a título simbólico, o discurso da actriz Meryl Streep quando, a 8 de Janeiro, recebeu um prémio importantíssimo. Por algum motivo, a criatura resolveu atacar a xenofobia do sr. Trump com o exemplo do meio cinematográfico, que ela considera – segurem-se bem – «um dos grupos mais perseguidos na sociedade americana». É apenas um caso, tipicamente amalucado, da soberba de Hollywood, que lá porque produz fitas horrendas se julga incumbido de iluminar os simples. Sempre que Hollywood designa um alvo, é provável que este detenha virtudes insuspeitas.

E há a marcha em Washington no próximo dia 21, exercício de afirmação dos direitos das senhoras, das quais o sr. Trump, cujos divórcios enriqueceram várias, é aparentemente inimigo. Enquanto marcham, milhares de mulheres tentarão demonstrar que os milhões de mulheres que votaram no sr. Trump são idiotas. Para provar que isto é sério, a teóloga Madonna publicou no Instagram a foto de uma vagina depilada. Sempre que «activistas» de desmioladas «causas» se empenham tanto contra alguém, é garantido que alguém não é mau de todo.

E há a lista crescente de congressistas que não enriquecerão a tomada de posse do sr. Trump com a sua presença. Vistos à lupa, é tudo gente de princípios, campeões das lutas civis e amigos do povo. Se, porém, o povo elege quem eles não gostam, a civilidade cai de cama e os princípios sofrem forte abalo. Sempre que grandes democratas só prezam um lado da democracia, é possível que o lado restante tenha certa razão.

E há, last and always the least, Obama. Em dois mandatos antecedidos de louvores precoces e que prometiam uma discreta mediocridade, Obama preferiu o estrondo à lamúria e, resumindo imenso, conseguiu aumentar as divisões sociais e raciais nos EUA, trair países amigos, ceder a nações inimigas e passear pacifismo ao mesmo tempo que fomentava guerras duvidosas. A lamúria guardou-a para o fim: sempre que um líder se despede entre lágrimas, é plausível que o líder seguinte seja menos embaraçoso. Sendo o sr. Trump, será o que Deus quiser. E o que, após 8 anos de erros sucessivos, Obama quis que fosse.






Proteja as suas crianças

da falsa ciência homossexualista







segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


PETIÇÃO

Diga à National Geographic que a ideologia de género

causa dano às crianças


National Geographic, ideologia de género é falsa ciência

Assine a petição para enviar

um e-mail à revista National Geographic


A revista National Geographic está usando incorrectamente um garoto de nove anos a fim de promover de forma agressiva a agenda de género para crianças como uma nova regra social.

Se estiver de acordo, assine a nossa petição para dizer aos editores da revista que se 
retratem e parem de promover ciência falsa.

A ideologia de género não é apenas uma falácia, mas também causa danos às crianças. Alguns especialistas consideram-a inclusive como abuso à infância. Foi o que concluíu, um denso estudo realizado pela revista 
The New Athlantics (que pode baixar na página da petição) e a Associação Americana de Pediatras!

Segundo a ideologia de género, ser homem ou mulher é resultado de uma construção social, não de uma adequação ao sexo biológico.

Os seus proponentes alegam que o objectivo é lutar contra o preconceito, mas na verdade pretendem impor a toda a sociedade uma ferramenta de controle social por meio da desconstrução da personalidade.

Esta falácia está a ser promovida por esquerdistas para crianças com até três anos de idade.

Os artigos publicados na National Geographic não passam por nenhum tipo de escrutínio académico sério.De acordo com Susan Goldberg, editora chefe da National Geographic, os cromossomos «XY ou XX não dizem toda a verdade». E ainda sugere que deve ser feita uma «revolução do género».

Assine a nossa petição para pedir que a National Geopraphic pare de disseminar ciência falsa e de promover a agenda revolucionária da esquerda.

Mais uma vez, muito obrigado pela atenção!

Atenciosamente,

Guilherme Ferreira e toda a equipa de CitizenGO

P.S.: Aproveito a ocasião para lhe indicar um importante documentário a respeito da ideologia de género. Chama-se 
O Paradoxo da Igualdade e está disponível com legendas em português no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=G0J9KZVB9FM. Vale a pena assistir ao documentário para obter informações objectivas sobre o carácter fraudulento da ideologia de género. Depois de ver o filme, não deixe de compartilhá-lo nas redes sociais!

CitizenGO é uma plataforma de participação cidadã 
que trabalha para defender a vida, a família e as liberdades fundamentais em todo o mundo. Para saber mais sobre CitizenGO, clique aqui, ou siga-nos via Facebook ou Twitter.






quinta-feira, 19 de janeiro de 2017


É o sol e não o homem a causa das alterações climáticas

Prepara-se um arrefecimento.

Pode até acontecer que este Inverno seja o começo.




Claude Brasseur, matemático, investigador em energias renováveis

Le «réchauffement climatique anthropique lié aux émissions de CO2» est pris fort au sérieux, surtout par des personnes de bonne foi qui veulent agir pour nous éviter de « cuire » dans un avenir plus ou moins proche. La vignette anti-pollution?

Pourtant, un refroidissement se prépare. Il se peut, même, que l’hiver actuel en soit le début. L’astronome Valentina Zharkova a fait récemment une découverte capitale : les taches solaires peuvent être prédites et elles sont signe de réchauffement s’il y en a beaucoup, de refroidissement s’il y en a peu.

Depuis des siècles, l’homme observe les taches solaires et le parallèle entre le nombre de taches et le temps qu’il fait. Il y a 200 ans, William Herschell, l’astronome qui a découvert la planète Uranus, attirait l’attention de ses collègues sur le lien entre le prix du blé en Angleterre et… le nombre de taches solaires. S’il y a peu de taches solaires, le ciel est couvert, il fait froid et les récoltes sont faibles; s’il y en a beaucoup, le ciel est dégagé, il fait chaud et les récoltes sont généreuses. D’épouvantables périodes de refroidissement climatique avec très peu de taches solaires – connues sous le nom de «Périodes de Maunder et de Dalton» – entre 1600 et 1800 ont été encadrées de périodes plus clémentes de 1300 à 1600 et de 1800 à 2000.

Aujourd’hui, le GIEC, organisme politique de l’ONU, financé pour démontrer le rôle climatique de l’homme, nie ou minimise l’importance des prédictions de Valentina Zharkova. Pourtant, un an plus tard, aucun astronome ou autre scientifique n’a émis la moindre critique sur sa découverte.1

Jusqu’en octobre 2015, l’évolution du magnétisme solaire qui conditionne, pour l’essentiel, ces variations du climat restait imprévisible.

La mathématicienne astronome Valentina Zharkova et ses collègues ont résolu ce problème à la Northumbria University (Angleterre) et un article a été publié dans la célèbre revue Nature.2

Que se passe-t-il ? Imaginons un double moteur thermique à la surface du Soleil. L’un est visible, l’autre – sous la surface — invisible.

Leur mécanique est presque synchrone. Le passé magnétique du Soleil peut alors être parfaitement reproduit… et le futur peut être décrit. Il nous annonce un refroidissement climatique pour bientôt…

Cette découverte recevrait le prix Nobel d’astronomie si un tel prix existait mais elle reste dans l’ombre car elle ridiculise définitivement les élucubrations du GIEC sur le rôle de l’homme dans les changements climatiques…3

«On» est allé jusqu’à s’organiser pour que la recherche sur Google, quand on tape « Valentina Zharkova », ne mène pas directement à son article mais à une pleine page de noms d’articles qui nient tous l’importance des conséquences de sa découverte pour le temps à venir. Ces articles sont souvent écrits par des personnes dont on ne mentionne pas les compétences…4

Pour finir, on ne pourra jamais libérer assez de CO2 à temps pour compenser la perte d’activité des plantes obligées de résister aux froids intenses annoncés pour 2030 ! Il s’agit, bien entendu, des régions où les températures seront encore suffisamment élevées pour permettre une végétation, pas de régions « polaires ». Et précisons que le CO2 seul est concerné. Il est accompagné le plus souvent de pollutions réelles, nocives. Il est évident que nous devons tout faire pour les diminuer…

En conclusion: préparons-nous à avoir froid – sans savoir à quel point nous aurons froid – et cessons d’écouter les lobbies pour qui « changement climatique » signifie uniquement « augmentation des bénéfices».

Notes:

[1] Ainsi, la quête du «boson de Higgs» a duré des décennies, tout comme la recherche de la mécanique solaire qui régit les taches solaires. Pour les deux recherches, on est arrivé à un degré de précision extrême qui les a fait passer du stade de «théorie» au stade de «découverte».

[2]  V. V. Zharkova et alt.: Heart Beat of the Sun from Principal Component Analysis and prediction of solar activity on a millenium timescale – Nature

[3] Al Gore a reçu le prix Nobel pour son film Une vérité qui dérange. Son contenu le plus impressionnant portait sur l’analyse des carottes de glace extraites des zones polaires. Celles-ci révèlent un parallèle étroit entre la variation de la température terrestre et le taux de gaz carbonique de l’atmosphère durant les 800.000 dernières années. Une analyse plus fine des glaces a montré que la croissance du CO2 suivait l’augmentation de la température et non le contraire, thèse fondamentale d’Al Gore et du GIEC. En fait, quand la Terre se réchauffe, les océans crachent leur CO25 ce rôle de l’homme qui est la seule justification des investissements dans l’éolien et autres «énergies renouvelables» ruineuses pour les citoyens. Énergies renouvelables qui devraient nous épargner des températures de plus en plus élevées, des catastrophes à tous les niveaux… alors que Valentina Zharkova nous apprend qu’une nouvelle «ère glaciaire» débute.6 De très violentes éruptions volcaniques refroidissent aussi occasionnellement la planète tandis que, à plus long terme, d’autres phénomènes liés à l’orbite terrestre jouent des rôles climatiques décisifs…

[4] Et je précise être mathématicien, avoir enseigné le cours d’astronomie à l’université de Lubumbashi (République démocratique du Congo) et me tenir au courant des recherches dans ce domaine passionnant.






UM KAMASUTRA PARA CRIANÇAS?









Um Kamasutra para crianças?


Este estranho psiquiatra é o ideólogo da chamada «educação sexual»

Um Kamasutra para crianças?

Graça Canto Moniz

Não faltará muito para que, copiando o exemplo brasileiro, o governo distribua um kit de prevenção contra a homofobia recheado de «manuais escolares» e outro tipo de «material» que estimula experiências auto-eróticas e homossexuais.

O leitor não deve ficar chocado com a pergunta que coloco no título. É que, em rigor, o Kamasutra para crianças existe. E, imagine, goza do alto patrocínio do Estado português na sua qualidade de grande educador das massas. Ainda assim, nem tudo está perdido: pelo menos, do conteúdo do dito manual não constam imagens explicativas. Refiro-me a um documento datado de Outubro de 2016 cujo título é «Referencial de Educação para a Saúde», carimbado pela Direcção-Geral da Saúde e pela Direcção-Geral da Educação, com o objectivo de promover «a educação para a saúde em meio escolar». É neste pedaço de prosa que se encontram as directrizes e orientações no que respeita, entre outros temas, aos «Afectos e Educação para a Sexualidade», dissecados em subtemas, objectivos e metas a atingir.

No que respeita à educação para a sexualidade (em relação aos afectos sabemos bem quem é o titular da cátedra...), o referencial pedagogicamente explica que, apesar da ubiquidade do sexo, a escola é o local onde os alunos [do pré-escolar e do ensino básico] manifestam, de forma mais impressiva, os desenvolvimentos sexuais nos vários ambientes, incluindo «na relação com os docentes e trabalhadores». A prosa social construtivista desenvolve-se entre orientações várias no que respeita às «relações afectivas» e aos «valores» até ao subtema 4, sob o manto diáfano do «desenvolvimento da sexualidade», onde se prevê, em antecipação precoce do processo de erotização natural de desenvolvimento infantil, o objectivo de os alunos do pré-escolar adquirirem «uma atitude positiva em relação ao prazer e à sexualidade». O Estado quererá ensinar bebezinhos de três anos a ter prazer? Por fim, o referencial propõe ainda ensinar os alunos do 2.º Ciclo (5.º e 6.º anos) a distinção entre interrupção voluntária e involuntária da gravidez.

Não faltará muito para que, copiando o exemplo brasileiro, o governo distribua um kit de prevenção contra a homofobia recheado de «manuais escolares» e outro tipo de «material» que estimula experiências auto-eróticas e homossexuais. É, contudo, lamentável que o Estado arrogue para si o direito de, através de um manual de instruções, construído de forma centralizada, definir unilateralmente um modelo único de educação para a sexualidade. Profundamente relacionadas com o conjunto de valores que cada família escolhe, em liberdade, as escolhas quanto à educação sexual devem, impreterivelmente e em primeira instância, passar pelo crivo familiar, pelo respeito pela sensibilidade, pelas questões de consciência e pela autonomia dos pais.






terça-feira, 17 de janeiro de 2017


Gentil Martins:

«Achava que uma pessoa aos 86 anos estaria gagá.

Felizmente não me sinto assim»



A mão não lhe treme e só não opera mais porque não o deixam. Aos 86 anos, numa entrevista de vida, António Gentil Martins conta os momentos mais marcantes da sua vida, fala da família e do seu ídolo.

Marlene Carriço, 
Observador, 15 de Janeiro de 2017

São 86 anos de vida e 63 de carreira.

O cirurgião pediátrico António Gentil Martins colecciona no seu currículo mais de 12 mil operações, das quais se destacam as separações de sete pares de gémeos siameses, com um balanço positivo de nove sobreviventes.

Em entrevista de vida ao Observador, num consultório privado, em Campolide, onde ainda dá consultas, Gentil Martins lembra o atropelamento a que assistiu a caminho do Liceu Pedro Nunes, ainda jovem, para explicar porque decidiu ser médico.

Do concurso de beleza que venceu, na Praia do Tamariz, no Estoril, ao período muito exigente enquanto Bastonário da Ordem dos Médicos, Gentil Martins conta ainda como conheceu a mulher e como três dos oito filhos quiseram ser médicos, mas não conseguiram.

E recorda, orgulhosamente, o seu maior ídolo — o pai, António Augusto da Silva Martins –, em quem se tem inspirado. Dele herdou o gosto pelo desporto, embora não lhe chegue aos calcanhares. Foi campeão de Portugal de ténis, pelos juniores, e campeão de Lisboa de badminton. Com o tiro, foi aos Jogos Olímpicos, em 1960. Fundou a Juventude Musical Portuguesa e a Associação dos Atletas Olímpicos.


Obstinado, mas disposto a ouvir os outros, o católico Gentil Martins explica porque é contra a eutanásia e o aborto.

Durante a sua carreira de cirurgião, dividiu-se entre a cirurgia pediátrica e a plástica, e desdobrou-se entre o Hospital D. Estefânia, o Instituto Português de Oncologia e a clínica privada. Responsável pela criação do primeiro serviço de oncologia pediátrica do Mundo, no IPO, é lá que ainda continua, mas só como consultor. Não opera porque não o deixam. Aceita, embora não entenda. Afirma que ainda está capaz.

Bisneto de um professor de obstetrícia, neto de um professor de cirurgia e fundador do IPO, filho de cirurgião, irmão de médico, sobrinho e afilhado de pediatra e por aí fora. A medicina parece estar-lhe nos genes. Era incontornável seguir o ramo da Medicina? Viveu com essa pressão ou foi mais uma inspiração?


Tive a sorte de a minha mãe nunca ter interferido naquilo que nós gostávamos de ser porque entendia, e bem, que nós só somos bons naquilo que gostamos de fazer. Se vamos para uma coisa que não gostamos seremos sempre maus. Então eu estava hesitante entre ser engenheiro ou médico, apesar de ter aquela tradição familiar, não sabia. Um dia, quando ia para o Liceu Pedro Nunes, no largo do Rato, assisti a um senhor que foi atropelado e ficou a sangrar imenso e eu não sabia se ele estava vivo ou morto. Senti-me verdadeiramente impotente. Queria ajudar, mas não sabia como. E então nessa altura decidi que ia ser médico porque pensei que se uma coisa daquelas voltasse a acontecer alguma vez perante mim eu ia ser capaz de fazer algo. E aí decidi definitivamente que haveria de ser médico. E pronto, depois fiz o meu curso do liceu e entrei para a faculdade de medicina.

O seu pai morreu, tinha apenas três meses. Como foi a sua infância na ausência da figura paterna?

Tive uma mãe que valia por dois. Transmitiu-me todos os ideais do meu pai. Por outro lado, no desporto, por exemplo, tive um grande amigo do meu pai, que também era olímpico, o Duarte Montez, que tinha uma espingardaria e que me ensinou e até me emprestou as armas e deu-me munições, porque naquela altura a minha mãe não tinha capacidades.


Mas chegaram a passar necessidades?

Vivemos com muita moderação. Por exemplo, eu no liceu tinha que estar no quadro de honra para ter isenção de propinas. Vivemos com austeridade, sem passar fome. Não me posso queixar. Vivemos com uma certa modéstia, uma certa contenção. Aliás, uma das coisas que mais me marcou foi quando soube que era a minha mãe que nos dava prendas no Natal e não o Pai Natal, porque eu estava habituado a acordar muito cedo e ir à chaminé para ver os presentes que o Pai Natal tinha lá deixado. E quando soube que foi a minha mãe, que eu sabia que tinha dificuldades, foi uma coisa que me ligou ainda mais a ela e ainda senti mais admiração justamente por ela se sacrificar para nos dar os tais presentes que a gente gostava no Natal. Tinha uns seis ou sete anos. Foi um dos momentos marcantes da minha vida. Entretanto fui crescendo, fiz o meu curso, entrei para a faculdade.

Não me parece exagerado dizer que o seu pai é o seu grande ídolo. Mas porquê?

O meu pai era uma pessoa que se dedicava extraordinariamente aos outros. Há um facto muito curioso: ele ajudava o meu avô, o professor Francisco Gentil, e a determinada altura começou a deixar de ajudar. Veio-se a descobrir que era um amigo que ia casar e precisava de dinheiro, então a maneira que o meu pai teve de dar dinheiro ao amigo foi ser o amigo a ajudar o meu avô. Outra coisa também muito engraçada, ainda no tempo da monarquia, ele estava de banco no São José e apareceu um marinheiro que precisava de ser operado, mas precisava de uma transfusão. Não havia ninguém que tivesse o sangue daquele grupo a não ser o meu pai. Naquela altura as transfusões ainda eram feitas de braço a braço. O problema era que o meu pai precisava de ter os braços livres para operar, então lembrou-se de uma coisa espantosa: tirou sangue do pé e nunca ninguém soube, a não ser no dia seguinte, quando o director de serviço foi ver o que se tinha passado com os doentes, e viu a transfusão, e perguntou-lhe e aí ele disse que tirou do pé. E só se soube porque o director o disse. Ele não fez alarme nenhum. E acho espantoso como, em 1930, no enterro dele estiveram 1 500 automóveis. Tenho também um livro, em pergaminho, onde estão os nomes de todas as pessoas que deram 10 tostões para comprar o grau de Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada que lhe foi dado depois de se ter oferecido como voluntário para a Guerra de 14/18. Lá você vê desde o primeiro-ministro, ao sapateiro, à criada de servir, ao ministro não sei das quantas, ao Presidente da República. Estão todos lá, sem qualquer distinção. Por outro lado, como desportista, eu vendo todos aqueles troféus, comecei a querer fazer coisas.

E fez.

Acabei por ser olímpico em tiro, fui campeão nacional de vólei, campeão nacional de ténis em juniores, introduzi o badminton em Portugal e sou o jogador número 1 da federação. Joguei também ténis de mesa. Sempre pelo CIF. E fundamentalmente amador.

Mas chegou a ser olímpico em 1960. Quer contar-nos esta passagem?

Em 1960 fui aos Jogos Olímpicos. Tive uma sorte enorme. Como as minhas provas [de tiro] foram logo nos primeiros dias, a partir do momento que acabei as provas, ainda tive 15 dias de férias em Roma. Pude visitar Roma, que foi uma maravilha, e pude provar comida dos outros todos.

E como conciliava os estudos com estes hobbies, a que juntava também violino, creio eu.

Bom, eu comecei a aprender violino quando tinha 10 anos, a minha irmã piano e o meu irmão violoncelo. Chegámos a fazer um trio. Mas quando comecei a estudar anatomia pus o violino de lado porque eu tinha de estudar 10 ou 12 horas por dia. Aquilo era praticamente obsessão também porque entravam mil alunos para o primeiro ano e depois saíam cem. Era uma razia total. E o violino se não é muito bem tocado, é uma vergonha, é horrível. Então encostei o violino. E passei a ir aos concertos. Fui fundador da juventude musical portuguesa.

Mas conseguia conciliar os restantes hobbies com a medicina?

Como eu era 100% amador, fundamentalmente só trabalhava no desporto aos fins de semana. E deitava-me cedo. Não bebia, não me drogava, não fumava. A minha preocupação não era ser profissional, era ser amador e fazer o que gostava.

Não fumava, não bebia e saídas à noite?

Nas férias, normalmente, ia para o Estoril e muitas vezes íamos para o Casino do Estoril. Depois, a partir do momento em que me tornei médico, passei a ter uma vida muito mais condicionada, até porque estava disponível para os doentes a qualquer hora do dia e da noite. Aliás, o meu telefone toda a gente sempre o teve. E depois tive a sorte de casar com uma mulher extraordinária. A seguir tive de aturar as minhas crianças, sobretudo na adolescência. Porque durante os dez anos que estive na Ordem dos Médicos eu praticamente não existi. O trabalho é extremamente absorvente.

E nunca deixou de exercer.

Nunca deixei de exercer, o que era extremamente complicado. E aí o que se prejudicou foi a família.

Arrepende-se?

É a única coisa de que me arrependo na vida. Mas é muito difícil estabelecer o equilíbrio certo. A Ordem é de facto extremamente absorvente e sobretudo num período de grande controvérsia. Tentaram destruir a Ordem a seguir ao 25 de Abril e eu quis repor a Ordem porque achava que para ser médico não era só defender os interesses da pessoa, a gente tinha de defender o interesse dos doentes. Acho que a Ordem dos Médicos não pode ser um sindicato, tem que ser muito mais que um sindicato. Ao fim de um ano e meio de luta consegui que uma assembleia geral de médicos dissesse que o sindicato era para estudar. E depois concluiu-se que o que os médicos queriam mesmo uma Ordem que os defendesse.

Voltando um pouco atrás. Ainda antes de chegar à profissão teve uma passagem pelo Reino Unido. Esteve lá três anos e meio. Terminado o curso porque decidiu permanecer no Reino Unido?

Eu não terminei o curso lá. Terminei a especialização. Eu terminei o curso em Lisboa, depois fiz o internato dos hospitais civis dois anos e estava a meio do internato de cirurgia pediátrica quando tive a bolsa para ir para Londres. Lá especializei-me. Fiquei com a especialidade de cirurgia plástica e de cirurgia pediátrica. E depois como me dedicava sempre ao cancro na criança, quando vim de Inglaterra, disse ao meu avô para criar um serviço para cancro das crianças, onde houvesse cirurgiões e pediatras. E então fez-se a primeira unidade no Mundo para tratamento do cancro da criança com cirurgiões e pediatras, em 1960. Mas estive dois anos a trabalhar de borla no Instituto do Cancro [IPO] porque o meu avô dizia que eu só tinha direito a receber ordenado quando mostrasse que era capaz de fazer coisas como deve ser. E só após uma conferência é que passei a receber ordenado. Durante dois anos não recebi nada, apesar de ser neto do meu avô.

E porque decidiu fazer especialização em cirurgia pediátrica e plástica?

Escolhi pediatria cirúrgica porque eu tinha uma irmã que era professora de enfermagem pediátrica e que casou com um pediatra. De maneira que eu pensei que era uma equipa óptima: um pediatra, uma enfermeira pediátrica e um cirurgião pediátrico. E gosto de crianças, que aliás são muito mais simpáticas que os adultos como doentes. São muito mais espontâneas e verdadeiras. Por exemplo, se vejo uma criança triste fico logo preocupado, se vejo uma criança bem disposta fico logo tranquilo. Além disso, na pediatria existem imensas mal formações em que a cirurgia plástica é fundamental. Mas uma das grandes coisas que eu gostava na cirurgia pediátrica era a variedade. Hoje em dia começa a existir muito mais sectorização, mas na minha época podia tratar-se de tudo. Aliás, isso foi absolutamente fundamental com os siameses. Os últimos siameses que eu operei demorei 13h30 e nos EUA, num caso idêntico, demoraram mais de 24 horas. A razão é que eu fazia tudo e eles lá tinham 24 cirurgiões a trabalhar e coordenar essas equipas todas era muito complicado.

Se eu lhe pedisse para destacar algum marco importante na sua carreira. Qual destacaria?

Há vários. Um foi a primeira operação em que tirei toda a pele da cara de um doente, de uma vez. Tinha uma doença congénita que fazia aparecer cancros quando apanhava Sol. E demorei 12 horas. Foi a primeira, nunca se tinha feito nem voltou a fazer-se. E foi a primeira vez que num congresso internacional me bateram palmas. Foi em 1961/62. Acabou por viver mais 35 anos e morreu com um cancro na cabeça, mas aí já não podia fazer nada. Depois os siameses de Moçambique foram os mais complexos de toda a cirurgia que fiz até hoje. Até mais complexa que essa. Porque estamos condicionados pela natureza. E penso que a coisa mais importante é tentar perceber o que se faz e porque é que se faz. Eu inventei uma série de técnicas novas, porque fazia as coisas segundo vinha nos livros e depois começava a pensar, será que esta é a melhor maneira, será que não há alternativas? E por causa disso arranjei uma série de alternativas.

Nem sempre lhe correu bem, certamente.

De modo geral, eu só avançava quando estava convencido. Assim por fantasia não. Por exemplo, nos tumores do rim da criança, eu apresentei o primeiro trabalho para fazer injecções antes da operação, em 1969. E durante cinco anos fui considerado violador do protocolo internacional porque era para fazer Raio X antes da operação e eu fazia injecção. Depois, quando uma parte do rim estava boa, eu só tirava a parte doente. Durante 25 anos violei o protocolo internacional, porque não se podia tirar só parte do rim. Mas porque é que eu ia tirar o rim todo? Portanto, sempre que era possível fazia a nefrectomia parcial. Agora já toda a gente aceita isso.

Mas foram 25 anos a contrariar o que estava escrito. Isso mostra um traço da sua personalidade. Chama-lhe determinação ou obstinação?

Obstinação, mas desde que com realismo e compreensão do que estou a fazer. Aliás, há uma frase que gosto muito dos ingleses: «Guidelines are not God’s lines». Portanto, as orientações são úteis e óptimas, agora não são a Bíblia sagrada, que tenhamos que seguir à risca. Temos que analisar doente a doente.

Mas essa obstinação aplica-se a tudo na sua vida? Em algum momento se pode ter confundido com arrogância ou tem por hábito ouvir quem está à volta e dar o braço a torcer se assim tiver de ser?

Eu tenho a preocupação de ouvir as pessoas que estão à minha volta. Mesmo quando operei os siameses de Moçambique fiz várias reuniões de serviço a perguntar o que eles achavam. Mas depois a decisão final é minha. E mais, os meus ajudantes zangam-se muito comigo, às vezes porque eu dou o primeiro corte e o último ponto. Eu começo e eu acabo.

Porquê?

Porque se houver alguma coisa que corra mal a responsabilidade é minha. Se correr bem, também é minha. É uma questão de princípio. Quando começo, devo acabar.

Assistiu ao nascimento do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Olhando para o percurso traçado, qual a maior conquista?

Toda a gente sabe que eu há 40 anos ando a lutar contra o actual modelo do SNS. Tentam dizer que sou contra o SNS, é pura desonestidade e inverdade. Eu sou é contra o modelo do SNS. Porque para mim nenhum SNS é suficientemente válido, se não der liberdade de escolha ao doente. O doente tem de ir onde se sentir bem, sem ser penalizado. O Dr. Arnaut, que é o chamado pai do SNS, disse que não era preciso fazer contas por causa da saúde, porque era um imperativo constitucional. Ora, toda a gente sabe que tem de se fazer contas para o SNS e tanto é assim que a Constituição teve de ser alterada para o SNS ter de ser tendencialmente gratuito. Só por absoluta inconsciência se pode pensar que a saúde não tem preço.

Modelo à parte. Houve ganhos?

Houve ganhos, mas esses ganhos também são bastante falsificados. Noutro dia vi um gráfico da mortalidade infantil, desde a primeira Revolução da República e depois no Estado Novo e vejo aquilo a descer, a descer, a descer e em 74 a mortalidade infantil ainda era mais ou menos três vezes superior à média europeia e só em 90 é que atingiu a média europeia e até baixou um bocadinho, porque se investiu em tratamento para os recém-nascidos. Por outro lado, também fica um bocadinho mascarado porque se aborta e o aborto não entra na mortalidade infantil. O maior benefício foi o trabalho dos médicos e o desenvolvimento científico.

Mas os portugueses têm acesso a cuidados de saúde de muita qualidade e até equiparados a outros cuidados a nível mundial.

Não tanto como dizem. E não posso aceitar que uma pessoa esteja seis meses numa lista de espera para ser vista. Não posso aceitar. O sistema está errado. Isso não é um sistema válido. Por outro lado, também sabemos que a nossa longevidade aumentou, mas o período em que estamos incapacitados é muito maior do que o que existe na maior parte da Europa. É evidente que estamos muito melhor do que os países africanos, de longe.

Voltemos à sua carreira. O professor reformou-se em 2000. Deixou a prática cirúrgica?

Eu continuo a fazer normalmente. A cirurgia pediátrica é a que gosto mais.

Mas no privado.

Sim, agora já não posso trabalhar noutro lado. Ainda estou no Instituto do Cancro [IPO] como consultor. Como criei o primeiro serviço do mundo de oncologia pediátrica deixam-me lá estar para dar opiniões, não sei quanto tempo. Normalmente não opero, porque eles têm muito medo que dada a minha idade se houver qualquer coisa que corra mal digam que é por eu ser velhinho. Eu acho que eles não têm razão, mas, pronto, aceito o critério. Cá fora continuo a fazer.

Sente-se capaz?

É uma regra médica essencial. Nós só podemos fazer aquilo que sabemos e somos capazes de fazer correctamente. Há certas operações de estética que eu já não faço porque já não sinto a sensibilidade que tinha quando as fazia. Por exemplo, as operações ao nariz. Mas as operações ao peito faço. Porque acho que faço bem.

A mão treme-lhe?

Não. A mão não treme rigorosamente nada. E vejo bem, porque fui operado às cataratas há cinco anos. Consigo ler a lista dos telefones se tiver boa luz. Não quero mais do que isso. Até porque nas operações a gente tem boa iluminação. E, portanto, enquanto me sentir bem e a fazer aquilo bem, faço. Quando tenho dúvidas já não faço. Mas aquilo que acho que faço bem, porque não?

Ao fim de 63 anos de cirurgias, mais de 12 mil operações, recorda alguma em concreto, ou algo que um familiar ou doente lhe tenha dito?

Eu tenho uma colecção de cartas de elogios e agradecimentos de doentes que tratei e que me agradecem a vida que têm hoje, que é normal, e poderia não ser. E isso é uma coisa que me dá imensa satisfação. São extremamente agradáveis para um cirurgião.

E foi a tratar um doente que conheceu a sua mulher.

Ela era a «mãe» de uma criancinha que tinha de ser operada. Porque os pais da criança estavam em África. Era irmã do pai e ela é que fazia de mãe. O pediatra chamou-me, eu tinha regressado de Inglaterra há pouco tempo, e a partir daí comecei a dar-me com a mãe adoptiva da criança. Começámos a namorar, mas fui na tal mobilização para Mafra, o que precipitou o casamento. Tive dois dias de lua de mel e depois o resto foi em Mafra.

Disse há pouco que gosta muito de crianças. Teve oito filhos. Nenhum seguiu medicina. Ficou triste com isso?

Tive pena. Tive três filhos que quiseram ir para Medicina mas não tiveram 18,5 portanto não foram, que é um disparate em Portugal. A vocação não serve para nada. Há uma dos três que ficou enfermeira, mas ganha uma miséria. É uma vergonha. E os outros dois acabaram por escolher outra coisa. Mas já tenho uma neta que é médica, outra está a tirar o curso e outra está em Psicologia e possivelmente irá também para Medicina quando acabar os três anos da Psicologia.


Defende a liberdade das pessoas, mas tem manifestado a sua posição contra a eutanásia. O que lhe pergunto é se não considera que a pessoa é livre de optar por continuar a viver ou não.

Eu acho que não. Aliás, a nossa Constituição diz que a vida humana é inviolável. A eutanásia é condenada há 2 500 anos pela ética médica, desde Hipócrates. E todos os médicos quando acabam o curso fazem o juramento de Hipócrates, em que dizem que o doente é a sua primeira preocupação e que nunca matarão. A pessoa pode suicidar-se, pois pode. Eu não concordo, acho que está a abusar de um direito. Se a pessoa se quiser atirar da janela, é lamentável, mas o problema é dela. Agora, interferência do médico, de maneira nenhuma. O médico, para mim, tem de ser sempre a favor da vida do doente. Se o médico aceitar a eutanásia, para mim deixa de ser médico e passa a ser um profissional de medicina, um licenciado.

E é essa postura pró-vida que o faz também condenar o aborto?

Condeno porque nunca ninguém disse que a vida humana tem interrupções. Quando juntamos duas células, uma do pai e outra da mãe, e se forma o ovo, já está tudo lá. E ao fim de três meses praticamente já existe tudo. Dos três meses em diante é só crescer. Nunca ninguém disse que havia ali uma interrupção. É claro que também tivemos o nosso querido Hitler, que achava que as pessoas deficientes eram para arrumar, eram um encargo financeiro. E ainda há pessoas que dizem que se um doente tem uma má formação grave o melhor é acabar com ele porque custa muito dinheiro. Mas a declaração Universal dos Direitos do Homem veio dizer que não é isso que nós queremos.

Em circunstância alguma?

Em circunstância alguma.

Nem em caso de violação?

Em princípio também sou contra, porque a criança não tem culpa do que aconteceu. Eu pessoalmente sou contra. Sei que há muita gente que é a favor. Aliás, a nossa lei permite tudo e mais alguma coisa. Aceita-se o aborto porquê? Por razões filosóficas, religiosas, políticas, todas as que quiserem, agora científicas de maneira nenhuma.

O facto de ser católico também influencia essa postura.

Isso pode influenciar-me, mas acho que não é preciso ser católico para ser contra a eutanásia e o suicídio assistido. A função do médico não é essa. Dizer que é um direito que acaba com os direitos? Não considero lógico.

Nunca se quis filiar em partidos nem em sociedades. Porquê?

Gosto de dizer aquilo que penso, quando quero e sem me preocupar se interessa a A, B ou C. E se eu julgo que estou certo, sou muito obstinado nisso. Se me convencerem que estou errado, aí aceito perfeitamente porque não sou infalível.

Mas dá espaço para o convencerem?

Perfeitamente. Desde que me expliquem porquê, tudo bem. E desde que eu compreenda porquê.

E já aconteceu muitas vezes?

Poucas, francamente. Desde que eu ache que determinados princípios que acho válidos são para manter, acredito naquilo e mantenho. Não quero estar condicionado por legislação. Serei muitas vezes objector de consciência, eventualmente. Mas não quero estar condicionado a não dizer aquilo que eu acho que devo dizer. Fiquei espantadíssimo, por exemplo, quando ouvi agora o Dr. Arnaut vir declarar que saía do Partido Socialista porque tinha havido lá muita trafulhice e que ele não compactuava com ela. Então agora é que ele acordou? Agora vem dizer que sai porque havia? Então se havia porque é que ele não o fez?

Procura sempre afastar-se das questões político partidárias, mas foi bastonário.

Quando fui bastonário da Ordem dos Médicos fui acusado de actuar como os comunistas e actuar como os fascistas, por causa do que eu defendia em relação à saúde. De maneira que disse: devo estar no sítio certo porque se actuo de umas vezes de um lado e de outras vezes do outro, devo estar certo. Cheguei a fazer uma greve, que é algo que sou absolutamente contra. E fiz a única greve médica que eu acho que foi ética.

E porque fez? Quando foi isso?

Foi em 80 e pouco. Por causa do Estatuto do Médico. O médico era o único profissional, depois da Revolução de Abril, que não tinha direito nenhum. Podia ser posto na rua em qualquer altura. A greve foi ética porque, primeiro, continuávamos a ir todos ao hospital e apenas assinávamos o livro de ponto dizendo greve. Tínhamos uma equipa de chamada nas secções regionais para atender qualquer doente que tivesse uma chamada urgente, que era atendido de borla. E reforçámos os serviços de urgência.

Mas como é que conseguiram então alguma coisa, não perturbando o serviço?

Aí está a nossa sorte. Ao fim de três semanas, num sábado à tarde, eu estava desesperado e dizia: «A gente vai rebentar porque os jovens médicos não têm hipótese. Não recebem ordenado há três semanas. Não têm hipótese de continuar a greve». Então o senhor secretário de Estado foi tão burro que proibiu os médicos em greve de entrar nos hospitais. Sabe quantos médicos ficaram no Hospital de São João do Porto? Sete. Sabe o que é que aconteceu? No domingo de manhã, o Governo reuniu de emergência, nunca tinha acontecido em Portugal, para aprovar o estatuto do médico.

E nunca foi convidado para ministro ou secretário de Estado?

Fui convidado para secretário de Estado no tempo de Sá Carneiro. Mas eu disse que não. Era presidente da Ordem dos Médicos na altura. E disse «não, eu gosto de ser presidente da Ordem e se vou para determinado partido político ou para um governo tenho de estar condicionado ao que o governo decidir, concorde ou não». Eu prefiro estar com independência. Eu sou católico e nunca fui da Juventude Universitária Católica (JUC). Quero dizer aquilo que me apetece, quando me apetece, desde que esteja convencido que tenho razão. Agora sentir que não posso dizer porque estou condicionado por onde estou, isso não me interessa nada.

Casou-se com 33 anos. Na altura já era tarde. Certo?

Bastante tarde. Era muito selectivo. Tinha de pensar muito bem.

Mas também não lhe sobrava muito tempo…

Sobrava. A gente convivia. E depois tive a sorte de ter um doente que me deu muito trabalho e de esse doente ter uma tia que ajudava um bocadinho. Isso também foi muito importante. E curiosamente a mãe dela era muito amiga da minha mãe. A mãe dela fundou a Cáritas portuguesa e eu tinha sido voluntário na Cáritas aí com os meus 19 anos. Ela tem menos nove anos que eu. Eu com 19 e ela com 10 não tem nada que ver. Bom, eu com 33 e ela com 24 já é diferente.

Há pouco contava também que teve de precipitar o casamento porque foi mobilizado. E a lua-de-mel foi onde?

Tivemos dois dias em Lisboa, ali assim para Alvalade numa casa que tinha alugado na altura. E depois Mafra. E estivemos num sótão onde tinha estado o meu genro esteve na tropa. E até aconteceu uma coisa muito engraçada. No dia em que chegámos lá, eu fui-me apresentar e, como era meu costume, quando saí de casa fechei a porta à chave. E ela teve de ficar o dia inteiro, sozinha, dentro de casa, sem comer. Ficou lá fechada. E quando eu cheguei, aflito, a única coisa que me safou foi o fato que eu trazia. Trazia um chapéu que me enterrava até aos olhos, umas calças mais curtas de um lado do que do outro, que era o que tinha sobrado lá do material que havia no quartel. E ela acabou por se rir com aquela figura esquisita e perdoou.

Do passado, para o presente. Já não exerce no SNS, mas exerce no privado. O seu dia continua a ser muito preenchido?

Não, porque não trabalho para os seguros e as pessoas vêm cá muitas vezes para ouvir segundas opiniões. Vêm cá para ver se eu digo se está bem o que lhes propuseram ser feito. E se eu digo que está bem, eles vão lá fora, fazer com um cirurgião mais barato. Antes tinha um consultório meu. Agora tenho umas horas às segundas e sextas num consultório de uma entidade que tem gabinetes.

E o que vai preenchendo o seu dia a dia?

Um dos grandes dramas é deitar os papéis fora. A quantidade de correspondência que eu tenho é brutal e há coisas que eu não sei se devo conservar ou não. Desde a Associação Médica Mundial, ao Colégio Internacional de Cirurgiões. Além disso sou membro de honra das sociedades internacionais da oncologia pediátrica médica e cirúrgica. E fui guardando tudo. Fui presidente 12 anos da associação dos atletas olímpicos e quando junto essa coisa toda penso assim: deito fora ou não deito fora. E é terrível, é muito difícil decidir. E o que é que eu vou fazer àquilo? E ainda por cima as casas hoje em dia não têm espaço para nada, já reparou? São casinhas pequenas onde é que eles [filhos] vão meter toda aquela trapalhada? Tenho também um quadro com medalhas. As do meu pai estão no Museu Nacional do Desporto que só tem três salas e a primeira é com o nome dele, onde estão os troféus dele

Então também tem mais tempo para a família.

Sim, mas está toda dispersa. Tenho uma filha na Suécia, uma filha no México, um filho em Taiwan. Os outros cinco estão em Lisboa. Mas pronto.

Vai dando para passear e viajar.

Eu já viajei tanto. Aliás, a vista mais bonita que eu conheço é a do Corcovado a olhar para o Rio de Janeiro. A cidade não me interessou nada, agora a vista lá de cima, com umas nuvenzinhas no horizonte, é uma coisa absolutamente espectacular.

Pensou alguma vez chegar a esta idade a exercer? Como encara a idade?

Eu quando era mais novo achava que uma pessoa aos 86 anos estaria gagá. Mas felizmente não me sinto assim. Aliás, eu sinto-me espantado como é que estou reformado há 16 anos. Como é que é possível? Eu estou formado há 63 anos, como é que é possível? Porque me sinto bem, graças a Deus. E, repare, não tremo nada. Vejo bem. De cabeça acho que estou bem. Como digo, há coisas que já não quero fazer. Mas enquanto eu estiver acima da média continuo, quando baixar, paro.

E continua com a perfeita noção disso?

Não sei. Mas peço ao meu ajudante que me diga se a coisa lhe parecer que não está a correr bem. E nessa altura, acabou. Mas eu gosto. E se eu gosto e acho que sei fazer porque é que não hei-de fazer? Eu acho que até sou útil, muito sinceramente. Há coisas em que acho um disparate não me utilizarem.

Agora tem muito tempo para descansar.

Agora tenho imenso. Ficar cá não fico de certeza, agora quando não sei, mas não me vou preocupar nada com isso. Não me vale nada. Sinceramente, gostava de acordar morto, como diz o outro. Era o ideal.