sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Socialistas franceses proíbem sites «enganosos» prò-vida


«Liberdade — Igualdade — Fraternidade»

ou as «amplas liberdades»


Chiara Bertoglio, Mercatornet, 21 de Fevereiro de 2017

Uma das citações mais mal atribuídas credibiliza a Voltaire com uma frase bem formada – que ele nunca escreveu. De qualquer forma, o pai do Iluminismo francês e dos seus valores, alegadamente proclamou: «Eu desaprovo o que diz, mas vou defender até à morte o seu direito de dizê-lo.» (Na verdade, a frase vem da pena de Evelyn Beatrice Hall).

Parece, no entanto, que os netos de Voltaire estão a desviar-se cada vez mais dos valores fundadores da sua República e da sua democracia, que são parcialmente resumidos na citação falsa. Na sua versão actualizada deve ler: «Eu desaprovo o que diz, mas vou defender até à morte o seu direito de concordar comigo.» Ou então, cala a boca.

De qualquer forma, é a mensagem que o Parlamento francês enviou para aqueles que discordam do aborto e que estão a usar a internet para informar às mulheres que não é o único, e muito menos a melhor resposta para uma gravidez indesejada. Na última quinta-feira, a Assembléia Nacional aprovou uma lei contra a «difusão de informações enganosas» sobre o aborto, um crime punível com pena máxima de dois anos de prisão e multa de US $ 30.000.

A medida expande o crime existente de «obstáculo ao aborto» – com o objectivo de impedir que activistas pró-vida falem às mulheres que entram em clínicas de aborto, ou organizem manifestações perto de clínicas e hospitais públicos – para incluir sites e «obstáculos digitais».

Num artigo precedente escrevi sobre o bagarre que (o combate que) cerca alguns Web site franceses da pró-vida. Ocasionalmente semelhantes em aparência aos sites oficiais do governo que fornecem informações sobre serviços de aborto, estes sites (muito bem sucedidos) têm o objectivo de ajudar as mulheres que estão a enfrentar uma gravidez difícil ou inesperada, encorajando-as a escolher a vida para seu bebé.

No último caso, nenhum mal está a ser feito a ninguém, especialmente porque as pessoas são perfeitamente livres para silenciar informações indesejáveis ​​com um clique numa janela do navegador. Nenhum pro-lifer francês aparece sob o seu laptop enquanto está a navegar na internet para «dificultar» a sua ida para uma clínica de aborto.

Sim, às vezes é muito difícil encontrar apoio legal para suprimir a liberdade de expressão em França, uma vez que a famosa liberté ainda está no lema da República. Neste caso, é preciso encontrar uma maneira oblíqua de obter o mesmo resultado.

Assim, os sites pró-vida devem ser encerrados não porque os seus conteúdos diferem da linha oficial sobre o aborto, mas porque parecem muito semelhantes aos sites oficiais pró-escolha e, portanto – é mantida – enganam as mulheres e fortalecem-nas a continuar a gravidez.

A ministra dos Direitos da Mulher, Laurence Rossignol, declarou:

«Os adversários do controle da natalidade estão a avançar disfarçados, ocultos atrás de plataformas [web-] que imitam sites institucionais ou linhas directas aparentemente oficiais. Os militantes pró-vida, entretanto, permanecerão livres para expressar a sua hostilidade contra o aborto. Desde que afirmem sinceramente quem são, o que fazem e o que querem.»

Mas o que isto significa na prática? De acordo com este relatório, a redacção da lei não é restritiva:

«Tal como está, pode ser usado para processar aqueles com qualquer «informação» que apresenta o aborto numa luz desfavorável e empurra as mulheres a não escolher o aborto. A lei não define quem tem autoridade para julgar se a informação é oficialmente «enganosa». Isso dependerá dos juízes em princípio e especificamente para a saúde e funcionários do governo.»

Quem está a enganar as pessoas neste debate é, pelo menos, aberto a questionar. O site oficial do aborto fala, por exemplo, sobre o aborto cirúrgico como uma «aspiração do ovo» e afirma que «o aborto não é a remoção de uma vida», como disse Rossignol na Assembléia Nacional. O site oficial diz que «todos os estudos sérios» mostram que não há efeitos psicológicos adversos a longo prazo do aborto, enquanto que o site IVG.NET pró-vida fornece evidências muito credíveis contra. Isto poderia, sob a lei, levar a queixas e acusações.

A Alliance Vita, uma rede pró-vida, denuncia a lei como um perigo para a «liberdade de expressão e de informação. [...] Não só a objectividade da informação é ameaçada, mas também qualquer prevenção das pressões que encorajam o aborto, que actualmente são negadas e ignoradas».

IVG.NET por sua vez não está pronto a recuar. O seu director M. Phillippe declara que não mudará «o conteúdo dos nossos sites ou a ajuda que fornecemos às mulheres por telefone, incluindo o convite para refletir».

Torna saliente que a tentativa de esmagar sites pró-vida estende-se aos meios de comunicação: nos oito anos que foram atacados, receberam apenas quatro minutos para colocar o seu ponto de vista – no canal da TV do Senado Público. Acrescenta:

«Nós, naturalmente, não exercemos» pressões morais e psicológicas ‘ou’ ameaças ou actos de intimidação». Mas o propósito desta lei (e a sua consequência) será permitir que o Planeamento Familiar nos assedie judicialmente sem que possamos retribuir condignamente por causa da sua impunidade de facto».

O Partido Republicano (centro-direita), que votou contra, concorda. Pretendem submeter o texto ao Conselho Constitucional, na esperança de o declararem contrário à Constituição francesa.

O golpe para a liberdade francesa é sério. De facto, o alvo maior do crime de «impedimento ao aborto» é susceptível de limitar dramaticamente os esforços das pessoas cujo único objectivo é ajudar as mulheres a escolher a vida.

Para citar Voltaire novamente, «Nós somos pró-escolha, desde que você escolha o que queremos.» (Podemos fazer mais uma citação falsa Voltaire, não podemos?).


Ver mais em: https://www.mercatornet.com/features/view/i-disapprove-of-what-you-say-and-will-make-darned-sure-you-cant-say-it/19386





Porque é que George Soros financia movimentos de esquerda? Entenda.


Alan Ghani, InfoMoney, 26 de Agosto de 2016

O casamento aparentemente contraditório entre um bilionário capitalista com grupos de esquerda desperta a seguinte pergunta: como um bilionário capitalista, especulador no mercado financeiro, decidiu financiar grupos de esquerda?  E porquê? Basicamente, porque muitos movimentos de esquerda não são necessariamente contra o capitalismo de George Soros, mas contra valores e princípios conservadores, base da Civilização ocidental, que representam obviamente uma resistência aos anseios globalistas de Soros e outros grandes capitalistas – tema muito discutido noutros países e totalmente obscuro no Brasil.

Recentemente, tivemos um facto marcante que nos ajudaria a entender a realidade do mundo actual e, para variar, passou despercebido pelos média: o esvaziamento de informações da fundação do bilionário George Soros, Open Society Foundation, a qual doa milhares de dólares para organizações de modelo esquerdista (progressista). Até 25 de Agosto, a lista completa dos documentos e das organizações de esquerda financiadas por Soros estava aqui (fonte primária).

O casamento aparentemente contraditório entre um bilionário capitalista com grupos de esquerda desperta a seguinte pergunta: como um bilionário, especulador do mercado financeiro, decidiu financiar grupos de esquerda? E porquê? Para quem acompanha os textos de Olavo Carvalho (aqui) e Flávio Morgenstern, esse casamento entre os metacapitalistas e as esquerdas não traz grandes surpresas, pelo contrário, é perfeitamente compatível com os movimentos progressistas de hoje.

De acordo com o intelectual Flávio Morgenstern (em óptimo Podcast sobre o tema, no qual resumo parte das ideias abaixo), para compreender o casamento entre George Soros e grupos de esquerda, é fundamental entender quais são os objectivos da esquerda hoje e o que é Globalismo, fenómeno muito debatido no mundo, mas pouco discutido no Brasil.

Segundo Morgenstern, o grande objectivo da esquerda é um mundo de paz entre as pessoas. Assim, para se alcançar a PAZ, na lógica esquerdista, seria necessário um Estado forte, além das fronteiras de um país, capaz de destruir todas as fontes de desigualdades na sociedade, seja ela racial, sexual ou até de rendimento. Mais do que isso, se tivéssemos um Estado com controle absoluto sobre a sociedade, acima das forças locais de um país, não haveria motivos para as nações entrarem em guerra. E é exactamente aí que entra o Globalismo de George Soros.

Teoria da conspiração? O brilhante filósofo inglês, Roger Scruton (ver obra Como ser um Conservador), diz-nos que não. Segundo ele, a União Europeia foi criada justamente para ser um Estado acima dos governos locais a fim de evitar mais guerras na Europa. O ponto chave é que a união entre os povos não ocorreu de maneira espontânea, popular, de baixo para cima, mas imposta por uma agenda globalista onde as pessoas comuns não se vêm representadas pelas novas normas e leis impostas para a sociedade pelos burocratas de Bruxelas. A saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) só mostrou este descontentamento popular com a agenda globalista.

Se de um lado, a União Europeia é um exemplo real que nos ajuda a entender o Globalismo; por outro, a relação entre o financiamento dos globalistas (George Soros) com movimentos de esquerda não parece ser tão óbvia. Porque a Fundação de George Soros financia ONGs, «colectivos» e movimentos que defendem ideologias que hoje caracterizam a nova esquerda (new left): feminismo, ideologia de género, black lives matter, gayzismo, abortismo, legalização das drogas, livres fronteiras para imigração, desarmamentismo, descriminalização da pedofilia, etc?

A razão é simples, muitos destes movimentos de esquerda não são necessariamente contra o capitalismo de George Soros, mas contra valores e princípios conservadores, base da Civilização ocidental, que representam obviamente uma resistência aos anseios globalistas das famílias Soros, Rockfeller, Ford, entre outras.

Uma hipótese plausível é que para estes metacapitalistas, colarem em prática o seu projecto de governo global – novamente, tema amplamente discutido no primeiro mundo – é necessário enfraquecer qualquer resistência a esse super governo. Evidentemente que todos os elementos defendidos pela direita, principalmente pelos conservadores, são uma resistência ao poder global, tais como a família, a religião judaico-cristã, os poderes locais, o respeito às tradições, aos costumes e à liberdade individual. Por exemplo, é muito difícil um governo moldar um comportamento numa sociedade em que os valores são transmitidos pela família ou pelo convívio social, e não pelo Estado. Na mesma linha, é quase impossível um governo impor a sua agenda diante de costumes e tradições tão enraizadas na sociedade. Por outras palavras, estes elementos conservadores representam uma resistência a qualquer tentativa de CONTROLE de governos sobre a sociedade civil.

Por isso, o que é perfeitamente compreensível que George Soros, um super capitalista, financie agendas progressistas mundo afora: os movimentos de esquerda de hoje lutam contra princípios conservadores, que são elementos d resistência ao projecto globalista de George Soros. Mais do que isso, muitos destes movimentos progressistas não lutam pelos mais oprimidos, mas vendem-se como bem-intencionados, politizando problemas de facto reais, para imporem a sua ideologia sobre a sociedade. Por exemplo, é evidente que existe machismo em diversas partes do mundo; o problema é politizar o tema para impor uma ideologia e um CONTROLE sobre a sociedade, transformando todo o homem num potencial machista e toda a mulher numa potencial vítima. Por outras palavras, por meio de uma guerra de narrativas, exploram-se ressentimentos para imporem uma agenda antiliberal e anticonservadora sobre a sociedade, financiada com o dinheiro de Soros.

Por fim, será que é mera coincidência que uma pessoa adepta da ideologia de género defenda também o desarmamento da sociedade civil, o aborto, o poliamor, ridicularize o cristianismo e admire o Obama? Porque será que é tão previsível saber a opinião dos Gregórios Duviviers e dos cools da Vila Madalena e do Leblon sobre imigração, legalização das drogas, aborto, cotas, etc? Porque será que tantas pessoas pensam em bloco sobre todos estes temas? Não sei. Talvez George Soros saiba a resposta.





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O que defendemos no debate sobre a eutanásia


Isabel Galriça Neto, Observador, 22 de Fevereiro de 2017

Na Holanda em 2015 praticou-se uma eutanásia a cada hora e meia. De pessoas com doença mental, pessoas que não pediram para morrer, pessoas sem situações de terminalidade, pessoas cansadas de viver.

Neste debate sobre a legalização da eutanásia defendemos a inviolabilidade da Vida humana, o respeito pela Dignidade e pela Liberdade.

Este não é de todo um debate confessional – como querem fazer crer —, talvez para acentuar um preconceito subtil de que sendo um debate religioso seria uma coisa retrógrada, um preconceito que confunde a sociedade laica em que vivemos com uma sociedade anti-religiosa. O debate, ainda que politizado, é claramente sobre que valores queremos ter na sociedade moderna para dar resposta ao sofrimento dos mais vulneráveis.

Defendemos a protecção da vida e a Dignidade. Entendemos que não é preciso escolher ser morto por outro para ter Dignidade na morte, aliás ser morto por outra pessoa é provavelmente a forma menos digna de se morrer. Defendemos a Dignidade enquanto valor intrínseco e patrimonial inegociável do ser Humano, pelo que para nós, e independentemente das circunstâncias, não há vidas que valem a pena ser vividas e outras não. É a vida que deve ter Dignidade, até ao fim, existindo hoje indicações rigorosas e meios de intervenção claros que não permitem que se prolongue a vida das pessoas com doenças avançadas e em sofrimento à custa de mais sofrimento com tratamentos inúteis.

Numa matéria literalmente de vida ou de morte como esta, com a relevância que a rodeia, não são admissíveis imprecisões e eufemismos que enviesam o debate, acrescem demagogia e pouco esclarecem: por exemplo, não se trata de um direito a morrer nem de uma morte assistida – trata-se sim de criar um pretenso direito a ser morto por outra pessoa; não se trata de morte digna – mal estaríamos se apenas os homicídios a pedido definissem a dignidade na morte; e não se trata de abranger apenas situações de fim de vida, pois no articulado do ante-projecto não são claramente excluídas outras situações de sofrimento, como situações de sofrimento existencial e com muito tempo de vida pela frente. Faz-se crer que serão situações de excepcionalidade, que depois o próprio articulado não permite de todo garantir.

Defende-se uma certa visão distorcida da Autonomia, em nosso entender irrealista e incorrecta: a ideia de que a autonomia é igual a uma autodeterminação absoluta em que o individualismo se estabelece e se ignoram as consequências do exercício das liberdades no Bem Comum. Se a autonomia fosse um valor absoluto, não seriam recusados pedidos nem se reservaria esta opção apenas para situações de fim de vida, e não seriam médicos a aprovar a decisão, esses sim os verdadeiros decisores que vêem o seu poder reforçado. A eventual legitimação e aplicação das propostas defendidas levaria a uma aparente «normalização» do matar a pedido e a uma banalização daquilo que consideramos um retrocesso na nossa sociedade. O que se iria impor seria uma visão apoucada do ser humano, que teria consequências perigosas no Bem comum, pois é isso que acontece quando se fazem leis deste tipo nos poucos países europeus que as têm, e se permite que sejam mortas milhares de pessoas por ano – uma eutanásia a cada hora e meia na Holanda em 2015 –, pessoas com doença mental, pessoas que não pediram para morrer, pessoas sem situações de terminalidade, pessoas cansadas de viver.

Defendemos uma sociedade moderna, que tem na protecção da vida o alicerce dos Direitos Humanos, uma sociedade que não descarta os mais vulneráveis e lhes amplia horizontes. Para nós, o problema do sofrimento em fim de vida trata-se cuidando e não eliminando aquele que sofre.





domingo, 19 de fevereiro de 2017

Parlamento europeu: «direitos» para robôs, mordaça para defensores da família



Alejandro Ezcurra, IPCO, 28 de Janeiro de 2017

Entre a loucura e a perseguição

Os povos da Europa estão a mostrar uma recusa cada vez maior a este mastodonte burocrático, totalitário e asfixiante chamado União Europeia (UE). O voto popular a favor do «Brexit» foi apenas uma amostra do crescente fosso que separa a UE das reais aspirações dos cidadãos dos seus países-membros.

Um dos organismos da UE mais contestados é o Parlamento Europeu, incumbido de legislar sobre normas comuns dos países da União Europeia. A principal causa de tal recusa são as imposições ideológicas deste organismo contra a família e contra a própria natureza humana.

Da alucinação à realidade

Não creia o leitor que exageramos: a Comissão de Assuntos Jurídicos do Parlamento Europeu acaba de aprovar um rascunho do relatório que propõe conceder personalidade jurídica aos robôs autónomos «mais sofisticados», atribuindo-lhes «o status de pessoas electrónicas (sic!) com direitos e obrigações específicos, inclusive de reparar qualquer dano que possam causar».

Segundo a autora do relatório, a deputada luxemburguesa Mady Delvaux, a humanidade está a entrar no umbral de uma «nova revolução industrial», na qual os robôs também poderiam ficar sujeitos a certas «obrigações», inspiradas aparentemente nas chamadas «Três Leis da Robótica», enunciadas pelo publicitado autor de ciência-ficção Isaac Asimov no seu conto Runaround (Círculo vicioso), de 1941.

Ora, esta ficção visionária parece estar a caminho de se tornar uma absurda realidade legal.

Mas, o que sucederia se um robô «saísse do manual» e gerasse situações de perigo? A relatora já tem a resposta: inserir previamente em todos os robôs um «interruptor mortal» através do qual possam ser desactivados caso funcionem «fora das leis estabelecidas».


Dependendo do seu nível de sofisticação, estabelecer-se-iam diversos «níveis de imputabilidade» para os robôs infractores: a «responsabilidade pessoal» (sic) de cada um aumentaria proporcionalmente à sua maior autonomia.

Ou seja, teríamos uma espécie de «código penal» alternado para robôs, com diferentes sanções que vão da «pena de morte» a castigos menores.

Felizmente, para alívio da nossa atormentada espécie humana, no meio de tanta loucura Delvaux faz uma ressalva: «Um robô não é um ser humano e nunca será humano. […] Pode mostrar empatia, mas não pode sentir empatia» (pelo menos não se deu conta…). Prescreve, ademais, que nenhum robô deverá parecer «emocionalmente dependente», nem manifestamente humano, nem aparentar «que ama ou que está triste»[1].

Para a deputada Delvaux, a interacção diária de homens com o que ela chama de «entes inteligentes não humanos» ou Inteligência Artificial, suscita problemas derivados da complexidade destes últimos, inclusive a «clara possibilidade» de que, apesar de serem produtos da nossa própria criação, nos superem «tanto mentalmente (sic) quanto fisicamente»; por outras palavras, que o feitiço robótico se volte contra o feiticeiro humano…[2].

Perseguição à vista?

Este não é o único disparate que se cozinha no Parlamento Europeu. A eurodeputada ecologista Heidi Hautala encomendou no ano passado à lobista pró-aborto polonesa Elena Zacharenkel um relatório contra as instituições e personalidades que se opõem aos supostos «direitos sexuais e reprodutivos» e à «igualdade de género», bandeiras da actual revolução cultural. O texto foi apresentado no dia 12 do corrente mês de Janeiro.

Manifestação da Federação Pró-Europa Cristã
diante do Parlamento do Luxemburgo, no dia em que se votou
a legalização do aborto neste país.
Segundo o portal espanhol Actual, «na lista negra desta peculiar caça às bruxas está em primeiro lugar o Vaticano (?), e depois 500 movimentos pró-vida e pró-família de 30 países da Europa» — entre os quais as agrupações Mum, Dad and KidsOne of usCitizenGo, etc. –, ou personalidades como Sophia Kuby, Gregor Puppinck, os espanhóis Jaime Mayor Oreja e Ignacio Arsuaga, entre outros.


E, evidentemente, neste libelo acusatório não poderia faltar a TFP: a relação destaca a Federação Pró-Europa Cristã (FPEC) [foto acima], com sede em Bruxelas, que aglutina TFPs e associações afins de 17 países europeus para acções conjuntas em defesa dos valores familiares. Menciona também que a FPEC é dirigida pelo Duque Paul von Oldenburg [Foto abaixo] e surgiu do «movimento ultraconservador […] Tradição, Família, Propriedade». E acusa os membros das TFPs de promoverem «uma cruzada no século XXI para levar a cabo uma revolução cristã»[3], quando deveria dizer uma Contra-Revolução.

Estas menções à FPEC e às TFPs, vindo de onde vieram — dos antros da Ideologia de Género — são sumamente honrosas para nós e para as demais entidades da lista, pois o seu reconhecimento da eficácia da nossa luta em defesa da civilização cristã equivale a uma condecoração implícita.

Duque Paul von Oldenburg, director da Federação pró-Europa Cristã
e da TFP alemã, é um dos «inimigos» da revolução cultural denunciados
numa acusação do Parlamento Europeu.
O libelo reconhece, por exemplo, que em certas ocasiões as entidades visadas pelo seu alarme «são capazes de activar dezenas de milhares de aderentes» em mobilizações que «conseguiram influenciar o desenvolvimento de políticas da UE».

Por isso, convoca a «opor-se à proliferação dos movimentos anti-choice», assinalando que para isso «é crucial que os progressistas [leia-se: as esquerdas alinhadas com a revolução sexual] apresentem soluções concretas para estes desafios […] a fim de rebaterem eficazmente a visão promovida pelas forças conservadoras».[4]

Quais seriam estas soluções concretas? Anteriormente, a este tipo de denúncias seguia-se um estrondo publicitário e uma encarniçada perseguição contra os denunciados. Mas, hoje, o Parlamento Europeu, a própria UE e as esquerdas em geral estão de tal modo desacreditadas perante o público, que provavelmente o libelo ficará apenas como mais um estalido de ódio contra a Igreja católica e a civilização cristã, sonoro, mas impotente.

E, enquanto isto, dentro e fora da Europa, um número cada vez maior de pessoas perguntam: «Para que serve o Parlamento Europeu?».

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Notas:






(*) Matéria traduzida do original em castelhano por Hélio Dias Viana.






Jean-Claude Juncker duvida da União Europeia



Hubert Cordat, Reinformation.tv, 13 de février 2017

Le président de la Commission européenne, Jean-Claude Juncker, a souligné samedi dans un entretien qui n’a été diffusé que dimanche sur les ondes de la radio allemande Deutschlandfunk, ses craintes sur l’avenir de l’Union européenne, notamment depuis le Brexit. Ce doute est sans aucun doute très fort, puisqu’il a annoncé par la même occasion qu’il ne briguerait pas un deuxième mandat à la tête de la Commission en 2019.

Evoquant son arrivée à la tête de la Commission européenne en 2014, Jean-Claude Juncker affirme en effet que «ce fut une belle campagne électorale», mais il n’y en aura «pas de seconde, car je ne me porterai pas candidat une seconde fois».

Autrement dit, après avoir longtemps présidé l’Eurogroupe, et avoir remporté la campagne pour la présidence de la Commission, l’ancien premier ministre luxembourgeois entend jeter l’éponge, alors même que son actuel mandat de cinq ans est renouvelable une fois.

Les doutes de Jean-Claude Juncker

La raison en est sans doute le sombre portrait qu’il dresse de l’avenir de l’Union européenne. S’interrogeant sur son unité, sa cohésion et sa cohérence, il exprime, alors même qu’il affirme en voir l’urgence, «quelques doutes justifiés que cela arrive vraiment».

En effet, «Les Hongrois et les Polonais veulent-ils exactement la même chose que les Allemands ou les Français? J’ai de grands doutes».

Mais son inquiétude va plus loin. Jean-Claude Juncker estime en effet que la Grande-Bretagne n’aura guère de difficultés pour diviser l’Union européenne: «Les 27 autres pays de l’Union européenne ne le savent pas encore, mais les Britanniques savent parfaitement comme ils doivent s’y prendre, affirme Jean-Claude Juncker. Il peuvent promettre une chose à un pays A, une autre chose à un pays B et encore une autre à un pays C dans le but qu’il n’y ait pas de front uni européen.»

Mais le président de la Commission européenne admet également un échec personnel puisqu’il avait pour ambition, au début de son mandat, de faire remonter la confiance des opinions publiques dans le projet européen. «Et à présent, conclut-il sur ce point, me voilà occupé, plusieurs heures par jour, à planifier la sortie d’un Etat membre. Ce n’est pas un travail d’avenir…»

Le sombre avenir de l’Union européenne

Dans le même temps, il continue d’essayer de freiner des quatre fers, en affirmant: «Nous ne devrions pas autoriser les Britanniques à faire comme s’ils pouvaient déjà conclure seuls des traités commerciaux avec d’autres parties car ils n’en ont pas le droit», et cela, «tant que la Grande-Bretagne est membre de l’Union européenne», la politique commerciale étant «du ressort de l’Union européenne».

On le voit très nettement. Alors que la crise de la conscience européenne vient à l’évidence d’une confiscation de la politique par Bruxelles, alors que les peuples des Etats-membres réclament chaque jour davantage de subsidiarité, les caciques européens, tels les singes de la sagesse, continuent de se voiler la face, poursuivant le chemin désastreux sur lequel ils se sont engagés. Et nous avec eux…

En définitive, si Jean-Claude Juncker ne veut pas se représenter à sa propre succession, c’est sans doute parce qu’il sait que sa Commission, qui devait être celle de la dernière chance, a raté son but!





sábado, 18 de fevereiro de 2017

A quem beneficia o Olimpo republicano português?



António Justo

AEROPORTO MÁRIO SOARES

– IMPOSIÇÃO DE MAIS UM MODELO CONTROVERSO
À CONSCIÊNCIA PORTUGUESA?

Não queremos ver Portugal limitado a uma casa assombrada
dos espíritos políticos

Na República, a virtude não parece mercadoria que se venda nem que se coloque em lugar nobre! Seria embaraçoso colocá-la nos altares da Nação porque então a corrupção comprometida passaria a não ter atracção nem cobertura. A República que era contra os ídolos da Monarquia, sem pôr a mão na consciência, substitui-os pelos ídolos da República. Aquela República dos homens do avental aproveita-se para entronizar, no lugar dos deuses, os seus comparsas, de maneira qualificada mas discreta. Um Portugal desaportuguesado, de cima, continua a implementar modelos controversos para assim eternizarem um país de espírito faccioso e divisionista. Cultiva-se um ideário de consciência política partidária individualista que se quer confundível com a consciência comunitária portuguesa (que consequentemente degenera num patriotismo empolado). Em vez de se auto-incensar, a política tem como tarefa fomentar também modelos da cultura e da integração no imaginário português. Na carência de um ideário cultural nacional, fomenta-se uma sociedade de tipo casa assombrada ocupada por espíritos políticos. Precisamos de menos ruído político para nos intervalos do seu silêncio termos espaço público para a cultura. Só assim poderemos dar ao povo a oportunidade de se tornar rei de si mesmo e desviar-se do paternalismo que leva à subjugação.

Proposta precipitada de Marcelo Rebelo de Sousa

O senhor Presidente da República precipitou-se ao sugerir (15.01.) que o possível novo aeroporto de Lisboa, a ser construído no Montijo, se chame Aeroporto Mário Soares. Ainda o ovo não saiu do ânus da galinha e já as bochechas políticas têm um nome redondo para lhe dar. Com estas e outras o senhor presidente revela-se como um oportuno continuador de um regime de comparsas e amigos preocupado em colocar os seus «santos» no Olimpo de Portugal para o povinho venerar! Como povo habituado a ser colocado à procura de gambozinos não nota sequer que o senhor presidente, à boa maneira do centralismo francês aportuguesado, se adianta com a proposta e assim prescinde da formação de opinião a partir do povo e indirectamente pressupõe a questão da decisão da construção daquele aeroporto, como facto consumado. Deste modo vem dar continuidade à realidade macrocefálica de uma capital sem corpo e também não tem em conta a falha sísmica do Vale do Tejo.

O rescrito da Nação terá de deixar de ser delineado só pelos caracteres políticos do Estado. Portugal precisa de uma outra narrativa, uma narrativa com um fio condutor não do poder mas do espírito cultural, para poder tornar-se num impulso criativo para uma geração de novos portugueses e novos políticos. Não precisamos só de homens, que de regime em regime se afirmem pela oposição ou pela afirmação, precisamos de personalidades da cultura com capacidade de atrair uns e outros. Mário Soares é uma grande personalidade dentro do partido socialista português mas como personalidade nacional provocou grandes bens e grandes males.

O futuro de um povo depende do cuidado dos seus mitos

O pressuposto do futuro está na memória. É natural que um país precise de pessoas de referência que permaneçam no ideário popular para, de forma duradoura, configurarem o sentimento de identidade nação-povo. O que não é natural é que devido ao provincialismo antiquado da classe política refugiada em Lisboa, os políticos continuem a querer impor os seus corifeus como personalidades exemplares para o País.

A República portuguesa seria bem aconselhada se procurasse fora da política as suas personalidades de referência. Portugal tem tido, na sua história, personalidades de alta relevância na cultura, na literatura, nas artes e nas ciências; este é o campo propício onde se encontram personalidades de referência nacional e internacional, propícias para a sustentabilidade na formação da alma portuguesa. A República tem produzido personalidades demasiado partidárias e controversas para poderem servir de exemplo e funcionarem como factores de integração do povo português. Mário Soares teve o mérito, de, com outros, impedir a implantação da ditadura comunista e neste sentido se provar como democrata mas nunca poderá ser um homem modelo consensual, sendo, como tal, impróprio como factor de identidade nacional. Não se contesta a sua imagem como ícone partidária na paisagem democrática.

Enquanto, numa democracia partidária, a política e a notícia escandalosa continuarem a dominar o espaço da arena pública, a cultura do país está condenada a definhar!

A quem aproveita isto?

Em política há sempre uma pergunta que deveria ser colocada sempre como prova dos nove do que se faz ou pretende fazer: quem se beneficia com isto?

Não seria de benefício para Portugal querer construir um regime político sobre as cinzas do Estado Novo sem ter consciência de que para se construir um Estado moderno seria também necessária a coragem de se reduzir a cinzas os malefícios crónicos da República e que infelizmente Soares também incorpora e representa. Um povo é um rio que flui ininterruptamente não podendo ser interrompido nem transformado em barragens sucessivas desta ou daquela ideologia!

De República vermelha para República arco-íris

Algo não é racional na lógica republicana e na política que segue de colocar os seus ídolos no Olimpo republicano! Por um lado muda o nome de Ponte Salazar para Ponte 25 de Abril e por outro destrona o Salazar como se ele não fizesse parte da República. Ou será que querem fazer do Olimpo republicano apenas um lugar para a esquerda e para maçónicos? Num Portugal inteiro, o Olimpo republicano precisa de todos os «santos» para venerar! (Já que falamos em «santos»; não haverá aí uma Maria da Fonte que, para desenfastiar, possa figurar como santa no Horizonte republicano? Tem talvez a desvantagem de cheirar a povo num Olimpo iluminado que para continuar a ser coerente consigo mesmo terá de ser masculino!)

Já numa acção operada no nevoeiro tinham trocado o nome de Aeroporto da Portela para Aeroporto Humberto Delgado. Gago Coutinho e Sacadura Cabral ficaram a ver navios! O cultivo da memória da História de Portugal tornar-se-ia embaraçosa para os nossos boys!

Em tempos em que governa a instabilidade emocional, penso que seria um acto de racionalidade, optar-se pela denominação de AEROPORTO POVO DE PORTUGAL, num país que se diz republicano, democrático e não gostar de santos!

O Olimpo português é um lugar sem exigências e como tal não faz sombra à corrupção política. O problema surge para os terráqueos que vivem num Estado em bancarrota e a ter de festejar os seus responsáveis como grandes estrelas no seu horizonte!

Os tempos políticos que correm, dado serem propícios a gerar muitos políticos do oportuno, deveriam deixar os políticos viver à vontade, mas exigir deles o critério de não terem o descaramento de desonrar o povo obrigando-o a ajoelhar perante os seus nomes. Porque não dar o nome das localidades aos aeroportos? Pouco a pouco se vai tendo a certeza que nos encontramos numa democracia sem baronesas mas que tropeça nos barões.

A «Ponte Salazar» depois «Ponte 25 de Abril» comemorou o seu 50.° aniversário

A Ponte Salazar, inaugurada a 6 de Agosto de 1966, passou há 42 anos a ser chamada Ponte 25 de Abril. Era na altura a quinta maior ponte suspensa do mundo e a maior fora dos EUA.

Uma República envergonhada de si mesma rouba ao passado o que não lhe pertence na esperança de viver do princípio, que o povo é massa de manobra e tudo o que vem à rede é peixe e o que não mata engorda.

Em nome da liberdade, os abrilistas apropriaram-se do nome da ponte. Agora, nos meios sociais, parte da esquerda sisuda e arrependida reconhece que fez mal e por isso, surgiu entre ela a ideia de lhe mudar o nome para Ponte da Liberdade, como se a liberdade tivesse dono e em Lisboa já não houvesse uma Avenida da Liberdade anterior à revolução!

O Povo português tem sido enganado ao ver ser atribuída a liberdade em Portugal à revolução de Abril. O movimento da liberdade já há muito se encontrava no coração e nas actividades de muitos portugueses de esquerda e de direita que actuavam não só nos ambientes comunistas.

É ilegítimo querer fazer passar a ideia que a liberdade e a democracia eram propriedade de forças radicais da esquerda.

Os senhores abrilistas até da razão se apoderaram ao assenhorarem-se da revolução cultural em via também em torno do Bispo do Porto, Dom António e da camada jovem que vivia o espírito do movimento 68 e anteriormente pelas grandes discussões de preparações para o Vaticano II no meio católico. Doutro modo teriam de consequentemente assumir também as barbaridades e traições executadas por uma esquerda radical anterior e posterior ao 25 de Abril.

Um dia a Ponte 25 de Abril voltará a ser chamada Ponte Salazar, não por razões de revanchismo ou de saudade de autoritarismos mas por razões de memória e de justiça num povo que precisa de pontos salientes para melhor se orientar.

Vive-se bem da ideologia servida ao povo como ópio tranquilizante. O problema é crónico mas pode ajudar a lucidez de o reconhecer.




Quebec: A crise do Ocidente


Giulio Meotti, Gatestone, 16 de Fevereiro de 2017

  • Quebec, assim como todo o Ocidente está enfrentando uma crise existencial, religiosa e demográfica.
  • A escalada de óbitos em Quebec está inequivocamente ligada aos apelos para o aumento da imigração. O primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau, que pôs um fim à campanha militar contra o Estado islâmico, simplesmente convidou migrantes muçulmanos a virem para o seu país.
  • A resistência ao dramático colapso do cristianismo no Quebec não requer necessariamente um novo abraço ao velho catolicismo, mas com certeza necessita de uma redescoberta racional sobre o que a democracia ocidental deveria ser. O que inclui a apreciação da identidade ocidental e dos valores judaico-cristãos – tudo o que o governo de Trudeau e grande parte da Europa, ao que tudo indica, se recusam a aceitar.
Bem-vindo ao Quebec, com o seu sabor de uma antiga província francesa, com as suas belas paisagens, onde as ruas levam o nome de santos católicos e onde um atirador acaba de assassinar seis pessoas numa mesquita.

A violência pode ser a consequência de convulsões sociais, como no massacre na ilha de Utoya na Noruega em 2011, um país que se orgulhava ser ultrasecularizado, parte da «boa sociedade» global. O Quebec também, assim como todo o Ocidente está enfrentando uma crise existencial, religiosa e demográfica.

George Weigel escreveu recentemente um artigo na revista norte-americana Firts Things chamando Quebec de «bairro livre do catolicismo». «Não existe um lugar mais árido em termos religiosos», destacando: «provavelmente não há um lugar mais árido, em termos religiosos no planeta entre o Polo Norte e a Tierra del Fuego».

Sandro Magister, um dos mais proeminentes jornalistas de Itália em assuntos católicos salientou: «enquanto se conversa em Roma, o Quebec já está perdido».

As edificações católicas no Quebec estão vazias, o clero está a envelhecer. Hoje em dia no interior da Igreja de Saint-Jude em Montreal os instrutores de fitness tomaram o lugar dos padres católicos. O Théatre Paradoxe em Montreal agora encontra-se onde estava anteriormente a igreja de Notre-Dame-du-Perpétuel-Secours antes de fechar. A antiga nave cristã agora é usada para concertos e conferências, aos domingos os hinos cristãos foram substituídos por shows de discoteca.

A Igreja de Saint-Jude em Montreal virou o «spa Saint-Jude» dos «adoradores do bem-estar»,
totalmente equipado com personal trainers, festas badaladas com coquetéis e bancos estilosos
em forma de crucifixo nos vestiários (Imagem: captura de tela de vídeo da Montreal.TV).

Diocese de Montreal vendeu 50 igrejas e outros edifícios religiosos nos últimos 15 anos. Em 24 de Maio de 2015 foi celebrada a última missa na famosa Igreja de São João Baptista, dedicada ao padroeiro dos franco-canadenses. O Bispo Auxiliar do Quebec Gaetan Proulx disse que a «metade das igrejas de Quebec» irão fechar nos próximos dez anos.

No filme «The Barbarian Invasions (As Invasões dos Bárbaros)» de Denys Arcand, «há uma cena em que um padre católico analisa peças de arte religiosa sem muito valor, que abarrotam a sua diocese, para mostrar a sua irrelevância. O velho padre diz:

«O Quebec costumava ser tão católico quanto a Espanha ou a Irlanda, todos eram religiosos. Num determinado momento nos idos do ano de 1966, a bem da verdade, as igrejas de repente, em questão de meses, ficaram vazias, Um fenómeno estranho que ninguém jamais foi capaz de explicar».

«O homem sem história, sem cultura, sem país, sem família e sem civilização não é livre:  está nu e condenado ao desespero», torna saliente o filósofo de Quebec Mathieu Bock-Côté.

O estado em que se encontra hoje o catolicismo no Quebec é realmente desesperador. Em 1966 havia 8 800 padres, hoje há 2 600, cuja maioria é idosa, muitos já residem em lares para idosos. Em 1945 a missa semanal contava com a participação de 90% da população católica, hoje são 4%. Centenas de comunidades católicas simplesmente desapareceram.

O Conselho do Quebec do Património Religioso referiu que em 2014 um número recorde de 72 igrejas foram fechadas. A situação é ainda pior na Arquidiocese de Montreal. Das 257 paróquias em 1966, havia 250 em 2000 e em 2013 apenas 169 paróquias. O cristianismo parecia estar em risco de extinção. O Arcebispo de Montreal Christian Lépine impôs uma moratória sobre a venda de igrejas.

À medida que as autoridades do Quebec impunham um secularismo agressivo como ferramenta para promover o multiculturalismo, o Quebec testemunhava um aumento dramático no número de jovens muçulmanos que se juntaram ao Estado Islâmico. − Foram cometidos ataques terroristas por convertidos ao Islão – pessoas que rejeitaram o relativismo canadense para abraçar o fanatismo islamista. «O fundamentalismo secularista do Quebec chegou ao extremo de impor a todas as escolas públicas e privadas – a primeira instância dessa natureza em todo o mundo – um curso obrigatório sobre ética e cultura religiosa» salientou Sandro Magister.

Um relatório académico concluiu:

«Dados do censo canadense mostram que o Islão é a religião que mais cresce no país e que embora a maior parte do crescimento da população muçulmana esteja relacionada com as taxas de natalidade dos muçulmanos e migração, desde 2001 a população muçulmana também aumentou em consequência das conversões religiosas dos canadenses não muçulmanos».

O declínio demográfico do Quebec também é revelador. A taxa de natalidade despencou de uma média de quatro filhos por casal para apenas 1,6 – bem abaixo do que os demógrafos chamam de «taxa de substituição populacional». O Quebec é um caso singular em comparação aos países desenvolvidos no tocante à intensidade e velocidade com que as taxas de fertilidade total despencaram.

A escalada de óbitos no Quebec está inequivocamente ligada aos apelos para o aumento da imigração. O primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau, que pôs um fim à campanha militar contra o Estado islâmico, simplesmente convidou os migrantes muçulmanos a virem para o seu país.

Segundo os demógrafos, somente a província do Quebec precisa de 70 000 a 80 000 imigrantes por ano para compensar a sua baixa taxa de natalidade. Mas o que acontece quando um dos mais famosos territórios católicos do mundo passa por uma revolução desta natureza cultural e religiosa, para compensar a queda demográfica?

A resistência ao dramático colapso do Quebec não requer necessariamente um novo abraço ao velho catolicismo, mas com certeza necessita de uma redescoberta racional sobre o que a democracia ocidental deveria ser. O que também inclui a apreciação da identidade ocidental e dos valores judaico-cristãos – tudo o que o governo de Trudeau e grande parte da Europa, ao que tudo indica, se recusam a aceitar. Metade dos ministros de Trudeau não foram empossados com um juramento religioso. Recusaram-se até a dizer «com a ajuda de Deus».

O lema de Quebec é: «je me souviens»: Eu me lembro. Mas do que, exactamente? No «bairro livre do catolicismo» o vencedor será o Islão?

Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.