quarta-feira, 15 de junho de 2016


Uma senhora de esquerda


Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 6 de Junho de 2016

Graças a uma entrevista na Visão, conheci a secretária de Estado da Educação, Alexandra Leitão. Que ser humano encantador! Ela é frontal. Ela é fã de Bruce Springsteen. Ela é do Sporting. Ela é de esquerda. Ela é «mesmo lisboeta». Ela é «superavessa» (sic) a maquilhagem. Ela foi aluna (e colaboradora) de Marcelo, que lhe deu um 18. Ela tem Mandela, Soares e Salgueiro Maia como «referências políticas». Ela não tem medo. Ela tem duas filhas. Ela sonha com «igualdade e democratização» no ensino. Ela lembrou-se de acabar com os «contratos de associação» com os colégios privados. Ela mantém as filhas inscritas num colégio privado. Ela viu a aparente contradição apontada nas redes sociais. Ela explica: «As minhas filhas fizeram o jardim-de-infância e a primária numa escola pública. E agora estão na Escola Alemã. (...) tem a ver com a opção por um currículo internacional. Para mim era importante que elas tivessem uma educação com duas línguas que funcionem quase como maternas, digamos assim. Se assim não fosse, andariam obviamente numa escola pública.»

Ficou claríssimo. A dra. Leitão quer providenciar aos rebentos um «currículo internacional», distinção que, no seu entender, o ensino público, «obviamente» fantástico, não assegura. Mas isso é ela, que além de dotada intelectual e financeiramente possui consciência social. Sem dinheiro nem cabeça, a ralé não pode alimentar «opções» assim. Não se espera que, em vez de patrocinar escolas e sindicatos, o Estado patrocine uma educação melhorzinha para a descendência dos simples, a qual deve saber o seu lugar e perceber que daí não sairá. De resto, ao povo basta meia língua e um currículo nacional, ou o nível de instrução suficiente para aplaudir o fervor igualitário e democrático de sua excelência, a senhora secretária de Estado.





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