terça-feira, 30 de maio de 2017

A satânica* Madona andou por Lisboa...




Alberto Gonçalves, Observador, 27 de Maio de 2017 (em «Nota de Rodapé»)

Madonna andou por Lisboa e não foi recebida pelo presidente da câmara: o sujeito, que sinceramente desconheço, visitou-a no hotel e, à saída, declarou que o hipotético interesse da cançonetista por uma casa em Sintra é – acreditem – «importante para o país». Mas a coisa, já de si extraordinária, não ficou por aqui. Parece que o ministro da Cultura, que também não sei quem é, requisitou o fecho do Mosteiro dos Jerónimos para que a senhora e os filhos o visitassem, cito um jornal, «sem qualquer incómodo» e sob a orientação especializada da própria directora do monumento. Consta igualmente que Madonna assistiu a uma exibição de cavalos lusitanos, preparada de propósito para a ocasião. E há boatos de que a intérprete de «La Isla Bonita» se terá encontrado com o dr. Costa, em circunstâncias por esclarecer.

Perante isto, a tendência da tradicional má-língua é resmungar contra os privilégios das celebridades, o provincianismo das «elites» (perdão) e uma nação que, pelo menos nas instâncias «oficiais», atingiu níveis de demência pouco explorados. Infelizmente, a má-língua deixa-se dominar pela inveja e, à semelhança dos que não compreendem as motivações dos «jihadistas», não consegue colocar-se no lugar do «outro».

O erro é partir do princípio de que a hospitalidade em causa é uma regalia desejável. Não é. E quem presume o inverso deveria imaginar o que sentiria se, em viagem a uma cidade estrangeira, fosse constantemente importunado por criaturas rústicas e irrelevantes, se visse condicionado a levar crianças a um claustro, tivesse de contemplar uma prova de hipismo e, ao que li algures, aturasse um ex-futebolista do Benfica ao jantar. O único fogacho de sorte de Madonna consistiu em ter escapado miraculosamente ao prof. Marcelo e às divagações em torno de Craveiro Lopes. Mesmo assim, haverá gente a passar férias mais agradáveis no Cazaquistão.

Nada disto é por acaso. Mal se percebeu que o turismo sustenta, quase sozinho, a nossa patética economia, os ponderados indivíduos no poder tomaram de imediato a atitude que se impunha: acabar com ele. Depois de um período dedicado a combater as companhias «low-cost», a condenar a evolução das cidades e a introduzir taxinhas para financiar o regresso a 1970, o PS lembrou-se há dias de impôr a autorização dos condomínios para arrendamentos de curta duração. Na prática, isto visa enxotar metade dos turistas. A metade restante enxota-se mediante a sujeição dos desgraçados a suplícios como o de Madonna. E se ainda resistirem um ou dois incautos, é então que aparece o prof. Marcelo, a propôr «selfies» e a resolver o problema de vez.


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* VER

https://setimoportal.wordpress.com/2016/07/13/industria-satanica-na-musica-exposta/


E TAMBÉM

http://antiilluminatiesp.blogspot.pt/2015/06/madonna-ritual-satanico-grammy-2015-en.html





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