domingo, 2 de julho de 2017

A Europa sitiada


Péricles Capanema, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, 22 de Junho de 2017

Na esteira de ataques terroristas muçulmanos anteriores (2015 e 2016), atentados com traços parecidos traumatizaram em 2017 a França, a Inglaterra e a Alemanha, além de outras nações da Europa, indicando provavelmente um padrão que tenderá a repetir-se. É o futuro do Velho Continente que está em jogo.

Lembro alguns destes atentados. Em Janeiro de 2015, uma série de cinco ataques na região de Paris deixou 17 mortos e 22 feridos. Em Novembro do mesmo ano, a casa de shows Bataclan e vários outros locais sofreram atentados de radicais muçulmanos, com 137 mortos e 368 feridos. Em 14 de Julho de 2016, festa nacional francesa, um extremista muçulmano jogou um camião contra a multidão que passeava distendida em Nice: 87 mortos e 434 feridos. Em Inglaterra, em Março de 2017, na Westminster Bridge, um terrorista atropelou peões e esfaqueou policias, deixando cinco mortos e cerca de 50 feridos. Em Maio, um atentado suicida no show da cantora Ariana Grande deixou 22 mortos e 129 feridos em Manchester [foto abaixo, local no momento da explosão]. Imediatamente, em Junho, terroristas muçulmanos arremessaram uma caravana contra peões na London Bridge e esfaquearam pessoas nas imediações: 7 mortos e 44 feridos. Na Alemanha, em Dezembro de 2016, no mercado de Natal em Berlim, um terrorista conduzindo um camião matou 12 pessoas e feriu 56. Na Suécia, em Abril de 2017, um camião utilizado como arma matou 5 pessoas e feriu 15. Recordo concluindo o padre Jacques Hamel, degolado por militantes do Estado Islâmico numa pequena cidade francesa em Julho de 2016.

São apenas alguns exemplos das agressões terroristas por toda a Europa. Os seus mentores esperam acarneirar a população; de outro modo, torná-la mais flexível a soluções favorecedoras dos objectivos islamitas. E os atentados fazem parte de uma realidade em desenvolvimento, destruidora, se a ela a Europa não resistir vitoriosamente.

Vamos a alguns dados fundamentais. É de 1,6% a taxa de natalidade das mulheres alemãs, abaixo da percentagem de simples reposição, 2,1%. Ou seja, cai continuamente a população, hoje aproximadamente de 82 milhões. O país necessita de 300 mil imigrantes anuais nos próximos 40 anos para manter a população estável e, a médio prazo, garantir o Estado do bem-estar social, ali construído desde o fim da II Guerra Mundial. Tais imigrantes, muçulmanos na sua maioria, têm vindo em particular de África, Ásia e Médio Oriente. Convém ter em conta que a Alemanha chegou à actual população por ter recebido 1 milhão de imigrantes em 2015 e 750 mil em 2016. E na decisão de Ângela Merkel, de autorizar a entrada de mais de 1,5 milhões de imigrantes, terão pesado não apenas razões humanitárias. Havia a necessidade de mão-de-obra jovem para manter viável o Estado de bem-estar social.

A Alemanha abriga hoje mais de seis milhões de muçulmanos, contingente que cresce aproximadamente 77 mil pessoas por ano. Outro ponto: as populações muçulmanas na Europa têm a média de idade menor que a alemã. E a taxa de natalidade das suas mulheres é maior que a das alemãs. Se as actuais tendências persistirem, mesmo desconsiderando o efeito da lei das reunificações familiares (um asilado, sob certas condições, pode trazer parentes), mais de 25% da população alemã será muçulmana em 2060. Situação parecida será vivida por outras nações europeias.

Hoje, os problemas graves tomarão uma dimensão nova com o gradual enraizamento e aumento das populações maometanas. Entre eles, tribunais da Sharia (justiça privada e grupal), aumento da criminalidade, poligamia, mutilação genital feminina, casamento de crianças, violências — às vezes até assassinato — em nome da honra. Outros ainda: extremismo islâmico, anti-semitismo árabe, lutas nacionais e étnicas. A Europa pode tornar-se uma sementeira de terroristas, situação em parte já existente, pelo generalizado recrutamento de homens-bomba e jihadistas por grupos extremistas no interior das comunidades muçulmanas, protegidas pelas leis nacionais e tornadas viáveis pelas redes de protecção social.

Como assimilar tal população? Aqui está a principal questão. Há um fenómeno amplo: os muçulmanos gradualmente estão a integrar-se na população. Em que velocidade e até que ponto? Faltam pesquisas conclusivas, embora se creia que na Europa exista uma situação parecida com a dos Estados Unidos, onde 32% dos educados no islamismo nunca mais professam tal religião na idade adulta e 18% do mesmo grupo admitem não ter religião. Na Alemanha, metade dos 4,2 milhões de pessoas de origem muçulmana não se declaram muçulmanos quando adultos. É o agnosticismo disseminado, que atinge também todas as religiões cristãs.

Em sentido contrário, subsistem e resistem costumes e raízes étnicas. É pequena a percentagem dos muçulmanos que se casam fora da sua religião. Na Alemanha, apenas 7,2% dos homens e 0,5% das mulheres são casados com uma pessoa de outra religião. Leo Lucassen e Charlotte Laarman, da universidade de Leiden, estudaram o assunto. Considerando a Alemanha, a Bélgica, a Holanda, a Grã-Bretanha e a França, na segunda geração, apenas 11% dos muçulmanos se casavam fora da sua religião.

Em resumo, temos assimilação difícil, tanto mais que na Europa os seus antigos moradores tendem a um multiculturalismo esfarelado. Pouca prática religiosa, agnosticismo generalizado, confusão mental. Apenas como exemplo, uma pesquisa recente indicou que disseram ter alguma religião 19% dos suecos, 23% dos checoslovacos, 26% dos holandeses, 30% dos ingleses e 34% dos alemães. A ausência de religião tem reflexos na conduta moral e na orientação das concepções sociopolíticas.

A Europa, que guiou-se outrora pelo ideal da Cristandade, agora ignora-a. Triunfou no campo secular um ideário em torno de princípios do Iluminismo, como democracia, direitos humanos, paz universal, apresentados como os novos factores de união. Vão perdendo força, esfarelando, como disse acima. No horizonte, sobe ameaçadora a possibilidade da islamização, vencida militarmente pela Europa em 1456, 1571 e 1683, mas que no século XXI volta mais insidiosa sob novos véus.

O que fazer? Falo como católico. Em primeiro lugar, súplices a pedirmos o auxílio da Providência. Confiança, oração. Foi o primeiro e grande recurso de São João de Capistrano, São Pio V e do Beato Inocêncio XI. A seguir, examinar o quadro inteiro com objectividade, não enterrando a cabeça na areia, como muitos erroneamente pensam ser a atitude idiota da avestruz. E apoiar medidas de oposição à derrocada das muralhas, que precisam de estar rígidas.

A saída vitoriosa, hoje distante, é reatar com os princípios que inspiraram a Cristandade, forças vivas em 1456, 1571 e 1683, aplicando-os, adaptados aos nossos dias. Na verdade, mais que sitiada, a Europa está doente. O que a torna especialmente vulnerável à ameaça muçulmana. E nós, latino-americanos, filhos espirituais de princípios lá triunfantes, para desgraça nossa, padecemos em boa medida das mesmas enfermidades.





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